O ódio aos negros nos EUA surgiu depois
da libertação dos escravos, ao fim da guerra civil daquele país. Antes, a
crueldade era exercida de forma econômica e jurídica, pelos proprietários de
escravo e pelo Estado. Manifestou-se também na participação no
conluio internacional para esmagar o Haiti, primeiro país das Américas a
libertar-se e a libertar seu povo de escravos por uma revolução contra a
potência colonial, a França. Até a
libertação, nos EUA como em todos os países escravocratas inclusive o Brasil
até 1888, o exercício da propriedade sobre pessoas incluía em grande parte
tortura e estupro de escravos e escravas. Eles não eram gente, mas ativos
econômicos, “naturalmente” inferiores aos brancos.
O fim da escravidão significou uma
supressão, mesmo que pontual, de direito de propriedade, o que foi muito
frustrante para os senhores brancos, e para a maioria dos outros brancos, que
perdiam uma forma de superioridade. Na América Latina a prevalência de
agentes do rei e dos barões da terra sempre relativizou o direito de
propriedade para as pessoas comuns, mesmo brancas proprietárias de
escravos. Lá, entretanto, propriedade era e é um bem tão ou mais
sagrado do que a liberdade e outros dos chamados direitos fundamentais. Isto
explica pelo menos em parte as humilhações, constrangimentos, supressão de
direitos políticos que todos os negros – homens, mulheres, crianças tem sofrido
até o presente. Recentemente, destacam-se o esbulho de eleitores negros das
duas eleições de George W. Bush e a povoação preferencial por negros nas
prisões estadunidenses. Esses tratamentos discriminatórios,
claro, também existiram e existem no Brasil, embora de
forma mais disfarçada e bem menos carregada de ódio do que lá.
O caso de Cuba, que era parte do
“quintal” mais próximo deles, mas deixou de ser um local de desfrute do grande
irmão do norte, é similar. Uma revolução retirou o capataz de plantão, o
sargento Fulgencio Batista do poder no começo de 1959, com a expropriação de
propriedades de seus apoiadores, o que incluiu cidadãos e empresas
estadunidenses. Seguiu-se uma política de atrito com os EUA, que
logo passou para conflito aberto. Tudo poderia ter sido resolvido se os
revolucionários tivessem cedido aos estadunidenses, ou pelo menos os cubanos se
voltassem contra seu novo governo e o derrubassem, atendendo ao chamado dos
antigos patrões. Mas os cubanos não quiseram voltar à situação
anterior. Daí o bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos até hoje, que conseguiu
restringir as opções dos cubanos, acabando por tornar essencial a centralização
da economia, devido à extrema escassez de bens na ilha, causada por
esse mesmo bloqueio. Esse bloqueio afeta a toda a população cubana.
Grupos anticastristas terroristas
montados no território dos EUA atuam em Cuba por meio de atentados, com perdas
humanas e materiais, com apoio do governo estadunidense. Quando
cinco agentes do governo de Cuba infiltraram-se nesses grupos nos EUA para
tratar de frustrar esses atentados e foram presos, foram sentenciados a penas
pesadíssimas. Atualmente os EEUU são o único país que insiste em tratar de
excluir Cuba de organismos internacionais, e impõe sanções contra cidadãos e
empresas estadunidenses e de outros países que ousem comerciar com Cuba. É ou não uma relação de ódio
contra outro povo que se libertou deles?
Isto tem a ver com a sangrenta guerra
secreta travada em várias partes do mundo por tropas especiais, mercenárias ou
não, por novos jihadistas (com preferência
aos não filiados à Al Qaeda), e por aeronaves de combate não tripuladas, contra
reais ou potenciais inimigos do poder da “América”, que inclui bombardeios com
pesadas baixas nas populações civis dos países alvos (represália contra
parentes dos combatentes? Submissão de populações pelo terror?),
e que só não são objeto de escândalo mundial porque a mídia
corporativa da maior parte dos países relega essas notícias em função das
conveniências do império.
Uma vez, em um trecho congestionado da
rodovia Dutra perto de São Paulo, apareceu um homem de terno correndo entre os
carros, pedindo para subir na camioneta em que eu estava, para fugir de uns
jovens mal encarados que o perseguiam. Presumi que se tratava de um assalto, e
pedi que o dono da camioneta permitisse que o homem subisse atrás, para
escapar. Ele topou, e como o trânsito logo começou a fluir, os presumidos
assaltantes foram deixados para trás. Impressionaram-me os semblantes
carregados de ira e ódio dos perseguidores durante a perseguição, até o momento
em que ela se frustrou. Lembrei-me desse episódio, ao considerar a fúria do
império contra quem se põe no caminho de sua supremacia, que eles pretendem
absoluta. Ninguém deve ousar nem mesmo tentar furtar-se a ela. Como tem
sucedido com todos os impérios ao longo da história.
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