Tempos atrás, um jovem e esportivo professor venezuelano,
convidado por não sei mais quem, proferiu uma palestra no Programa de Energia
da USP, sediado no IEE. Entusiasta das privatizações, em certo ponto da
palestra escreveu no quadro verde o lema de Margareth Thatcher: TINA, sigla
para there is no alternative, não
existe alternativa. Referia-se à minimização do poder de intervenção do Estado,
e a entrega a corporações privadas dos serviços públicos em todo o mundo,
particularmente a América Latina.
Irritou-me profundamente, e embora sua palestra fosse muito
bem ilustrada por um powerpoint lindamente produzido, não trouxe qualquer justificativa
para o arrogante lema do neoliberalismo então triunfante, nada dessa palestra me
ficou na memória. Fora o tal de TINA, e a atitude alegremente imbecil do
referido professor.
Os neoliberais pintaram e bordaram no Brasil, com o apoio da
grande mídia e dos Estados Unidos, os quais inclusive reintroduziram-se no
setor elétrico brasileiro, com a AES, empresa texana, com as empresas consultoras
que formataram as novas legislações e com os seus bancos, participantes das
empresas montadas aqui para colher os frutos da entrega. Apenas os
sindicalistas dos serviços públicos e os partidos de esquerda, o PT à frente,
opuseram-se à onda, mas foram derrotados.
Foram derrotados, depois de ter lutado contra a ditadura e
obtido um começo de democracia formal. Todos queríamos as liberdades democráticas sem
restrições, inclusive o direito de lutar por uma sociedade mais igual e sem
sofrimentos desnecessários. Continuamos querendo. Entretanto, a superação da desigualdade pressupõe ações
anticapitalistas. A serem efetuadas por
pessoas atuando fora das práticas capitalistas, com apoio de um Estado não mais
capturado pelos capitalistas e seus funcionários burocráticos, militares e
ideológicos. Com outras práticas e outros valores. Essas pessoas existem e podem aumentar em número e influência.
Contra s sigla imbecilizante lançada pelo trio formado pelos
falecidos Margareth Thatcher, Ronald Reagan e Karol Woitila, pode-se adotar
algo como EAS, existe alternativa
sim. A legião de pessoas que hoje apenas garantem que as sociedades não explodam
em pedaços: as mães, os que fazem serviços voluntários, os que participam da
pequena fração das ONGs que não servem empresas capitalistas, são uma prova da
possibilidade de organização para além do mercadismo inerente à lógica
capitalista. Os seres humanos sempre terão seu lado individualista e perverso,
mas não é necessário nem inevitável nem admissível que seja este lado que estruture
as relações sociais.
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