Bem que seria vantajoso o poder público comprar os
candidatos a cargos eletivos que se candidatam com o fim de receber propinas.
As decisões tomadas por essa espécie de gente custam ao Estado, ou seja, à
nação sempre muito mais do que uma renda vitalícia para garantir a eles uma
existência confortável, através de alguma espécie de bolsa-corrupto.
A bolsa seria dada a esses prestigiosos cidadãos desde que
eles renunciassem a por as mãos sobre assuntos ou ativos públicos. O que não seria se pudéssemos ter presenteado antes
que os proponentes da grande privataria do governo FHC assumissem o poder, com
títulos de grã cavaleiros da ordem neoliberal, com direito a um estipêndio
garantido, alto, mas de valor conhecido, completo até com um apartamento em
condomínio de Miami em troca de sua renúncia aos cargos que ocupariam para
entregar os ativos da nação a preço de banana?
Infelizmente, isto não aconteceu. E temos além disso que
conviver com políticos cujo comportamento demasiadas vezes não podemos prever
quando eles tomam posse de seus cargos. Do ponto de vista da honestidade, pode-se
supor a existência de dois tipos de políticos, os democratas e os cleptocratas.
Não que as qualidades e vícios se concentrem totalmente em só uma das duas categorias
de pessoas. Todos os políticos têm algo de democrata e algo de cleptocrata.
Essa nomenclatura se inspira em uma observação de Jarred
Diamond em seu livro Colapso, de que todo Estado é uma cleptocracia, que a ralé
tolera, enquanto existe pão suficiente para todos (mesmo que não seja muito bem
distribuído). Quando faltar pão, independente das qualidades morais que a elite
consiga exibir, a turba vai querer derrubar as portas do palácio, por cima de
quantas polícias e guardas pretorianas existam. Porque não se pergunta o que
está atrás da derrubada do presidente Morsi do Egito, eleito livremente há
pouco mais de um ano? Não seria a ausência de políticas que se esperavam dele
para enfrentar os graves e urgentes problemas de pobreza e desemprego para os
quais o neoliberalismo herdado de Mubarak e continuado não teve respostas?
Nenhum político sobrevive como exclusivamente ladrão. No
mínimo, é necessária alguma hipocrisia, que por sua vez exige algum trabalho
efetivo pelo bem comum. Sem esse componente democrático, nem o cleptocrata mais
talentoso se elege. A procura do bem comum por sua vez é o que define, nessa
proposição, o político democrata (não confundir com o partido de mesmo nome,
aquele que descende diretamente da Arena, partido oficial da ditadura!).
Procurar o bem comum. Mas essa busca, para além dos dilemas inevitáveis ao se
tratar de questões complexas, passa por oportunidades de desvios mais ou menos
cleptocráticos, por exemplo, para obter o necessário apoio dos políticos de sólida
tradição e prática cleptocrática.
As denúncias de corrupção veiculadas pela mídia corporativa
centram-se em casos relativamente localizados. Bom para desviar a atenção do
que realmente influi. Como os casos protagonizados por essa mesma mídia.
O conglomerado Globo foi favorecido de inúmeras formas pela
ditadura, inclusive ao associar-se ilegalmente a uma empresa estrangeira, a
TIME – Life para tornar-se o seu grande órgão de propaganda, e agora está
envolvida em um grande escândalo de sonegação. Carros de reportagem da Folha de
São Paulo foram usados para sequestrar e matar gente através da OBAN e do
DOI-CODI – desvio de função. O jornal O Estado de São Paulo foi favorecido por
uma informação privilegiada da ditadura para se livrar de uma dívida em dólar
imediatamente antes de uma grande desvalorização da moeda brasileira na época.
A relação da revista Veja com o crime organizado em Goiás, neste caso junto com
o governador de lá, por exemplo, é notória. Não estou falando das mentiras,
calúnias, acusações sem provas que esses órgãos têm lançado contra seus
adversários políticos, isso já é outra questão.
Aos que clamam genericamente contra a corrupção, convido a
combater todas as formas de corrupção, inclusive as próprias de cada classe
social. Na classe média encontramos a sonegação de impostos, subornos a agente de
governo, o uso de influências para obter pequenas vantagens, superfaturamento
em despesas de viagem, receber comissões como agente de compras. Como a
prevalência das diferentes formas de corrupção é enorme, tem que definir
prioridades, destacando as formas que têm causado mais dano, no desperdício de dinheiro
ou patrimônio público, que subtraem capacidade dos governos de investirem em
saúde, educação e segurança, e pelos danos ao tecido social, pela
desmoralização que elas trazem aos jovens ainda não afetados por elas.
Para que esse combate seja sem hipocrisia, tem-se que
considerar a corrupção em todas as suas
diferentes formas, inclusive as formalmente legais.
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