segunda-feira, 6 de maio de 2024

UM TESTEMUNHO DAS CAUSAS DE A INUNDAÇÃO TER AFETADO PORTO ALEGRE NESTA ESCALA

 Obrigado, Zepa!

Fui Diretor de Conservação do DEP, Diretor do DEP  e Diretor-Geral do DMAE em Porto Alegre.

Posso afirmar que conheço bem o sistema de saneamento da cidade e também o Sistema de Proteção  Contra as Cheias da Capital. Durante o tempo em que  estive na Prefeitura, me dediquei de corpo e alma aos melhores cuidados e profissionalismo que  as funções exigiam.

Participava de todas etapas das obras e serviços que eram prestados à cidade, de seu planejamento à respectiva execução, além da gestão e suas necessidades.


A matéria de Rosane de Oliveira em GZH de hoje analisa com propriedade as causas do colapso do sistema de proteção contra as Cheias da capital  gaúcha.

Antes, ainda, vale registrar que Porto Alegre tem o melhor sistema de   proteção contra Cheias do Brasil. Este é composto por Diques, Casas de Bombas, pelo Muro da Mauá, por comportas de superfície e de  gravidade, e ainda pela estrutura predial da usina  do gasometro. É um complexo que  representa investimentos que ultrapassam um bilhão de dólares, construído durante várias  décadas (desde 1941).

O colapso atual, contudo, acontece porque os serviços básicos de  manutenção não foram feitos. E, aí, pelo menos 2 comportas não  resistiram à pressão da água e foram a pique.  

Comportas com as estruturas enferrujadas, corroídas, emperradas, sem  graxa, e sem pintura - a ponto de assistirmos uma delas,  da região  central, ser acionada pela tração motora de uma máquina retro-escavadeira.

Lembro que em 1993, e anos subsequentes, quando estava no DEP,  fazíamos a manutenção preventiva das  comportas - tanto as de superfície, quanto as de gravidade. Assim, essas recebiam  tratamentos e reparos relacionados a ferrugem, pintura,  mobilização e outros, a ponto de  serem acionadas manualmente a qualquer momento em caso de  necessidade. E as comportas de gravidade ficam submersas nos poços  das casas de bombas (portanto não aparentes), e que têm a função de realizar o esgotamento por gravidade quando o nível da rio está mais baixo do que o da a cidade.

Essas comportas fazem perte das  estruturas do sistema de  proteção contra as Cheias, pois, quando o rio está acima da cota 3 (mais alto que várias áreas da  cidade), essas comportas fecham com a pressão do rio - e, aí, o escoramento é feito pela elevação da água pelo acionamento do sistema de bombeamento.

Ontem, várias matérias relataram o fato da a água estar vertendo pelos esgotos. Isso significa que essas comportas de gravidade também não estão operando por falta de manutenção. Essa manutenção é cara, geralmente feita por serviços de mergulho contratados e altamente especializados. É importante registrar que esse problema já tinha aparecido na  enchente de 2023. Fiz um vídeo sobre isso à época.

Enfim, talvez os gestores atuais nem saibam disso. O desmonte e sucateamento do DEP e DMAE têm  como resultado tudo isso!

E, pra finalizar, o DEP era uma  Secretária  Municipal. A única de  primeiro escalão do Brasil que cuidava da drenagem e do serviço de proteção  contra enchentes. Foi sucatedo e jogado pra dento do DMAE como um departamento não importante.

Abraços,
Carlos Atilio Todeschini.

Nenhum comentário: