LOBISTAS DO PARTIDO REPUBLICANO AJUDAM O BRASIL A RECRUTAR EMPRESAS DOS
EUA PARA EXPLORAR A AMAZÔNIA
26 de Agosto de 2019, 17h57
NOS ÚLTIMOS MESES, incêndios estão sendo
usados para limpar vastas áreas da Amazônia em um ritmo sem precedentes. Um
quinto da Amazônia já foi destruído nos últimos 50 anos. Uma maior
industrialização da floresta tropical corre o risco de destruir outro quinto,
uma perda que seria catastrófica para o ecossistema
global.
O desastre é amplamente
atribuído a interesses que procuram abrir a maior floresta tropical do mundo
para dar espaço à pecuária, à mineração e ao agronegócio focado nas
exportações. Documentos revelam que esses interesses estão sendo incentivados
nos EUA por lobistas republicanos favoráveis ao governo Trump, que iniciaram
conversas com o governo brasileiro para promover o investimento empresarial na
Amazônia.
A crise na
Amazônia ocorre com o Brasil agora sendo governado por uma administração
abertamente hostil às preocupações ambientais e às comunidades indígenas. O
presidente Jair Bolsonaro, ex-capitão do Exército que já foi visto como figura
marginal na política brasileira,autodeclarado Capitão
Motosserra por sua iniciativa de promover a exploração madeireira e o agronegócio
na Amazônia.
Logo após assumir o cargo em
janeiro, Bolsonaro cortou o
financiamento para a principal agência ambiental do Brasil em 24%. E, nesta
semana, depois de um relatório do centro de pesquisa espacial brasileira
revelar que os incêndios na Amazônia subiram 83% este
ano, Bolsonaro culpou as ONGs internacionais em vez de suas próprias políticas
antiambientais.
ENQUANTO ISSO, um integrante do governo brasileiro contratou
lobistas de Washington para continuar vendendo terras e destruindo a floresta.
Em junho, Wilson Lima,
governador do Amazonas, onde está situado aproximadamente um terço da Amazônia,
incluindo o epicentro da atual crise de incêndios florestais, começou a trabalhar com
o InterAmerica Group, uma empresa de lobby com sede em Washington DC, fundada
por Jerry Pierce Jr. Kellen Felix, brasileira vice-presidente do InterAmerica
Group, também está listada em registro de divulgação para
trabalhar com o estado do Amazonas. Eleito no ano passado, Wilson Lima é
filiado ao PSC, partido conservador afiliado à Assembleia de Deus, igreja
pentecostal em rápido crescimento no Brasil.
Os registros iniciais,
divulgados sob a Lei de Registro de Agentes Estrangeiros através do
Departamento de Justiça, que regulamenta o lobby estrangeiro, mostram que
Pierce foi chamado para
representar o governo de Lima em reuniões com agências federais e o Congresso.
O InterAmerica Group também já
apresentou um pacote informativomontado
para empresas americanas em nome do governador brasileiro, promovendo a região
amazônica por seu potencial de desenvolvimento. O pacote lista mineração,
agronegócio e “indústria química de gás” como “oportunidades” para empresas
americanas. Entre os “desafios” para essas empresas em potencial está “garantir
a conservação da floresta”.
Pacote, divulgado pelo InterAmerica Group,
anunciando a Amazônia para interesses comerciais. Documento: divulgação da Lei de Registro de Agentes
Estrangeiros.
Em resposta a uma pergunta do
Intercept, Pierce disse que um contrato final não foi assinado. “Infelizmente,
o estado da Amazônia decidiu adiar a contratação de nossa empresa por tempo
indeterminado. Talvez a negociação seja retomada em 2020”, escreveu Pierce. Ele
não respondeu a uma pergunta sobre por que sua empresa já estava produzindo
comunicações em nome do governo de Lima.
Pierce escreveu extensivamente
sobre como Trump e Bolsonaro são uma benção para o aumento dos negócios
americanos no Brasil. “Sob o presidente Trump”, Pierce escreveu em um post de 2017 no
site de sua empresa, o Brasil deve se tornar “um líder mundial em setores como
agronegócio, mineração, bancos e aviação.” Em posts mais
recentes, Pierce comemora a ascensão do presidente de direita Jair Bolsonaro,
declarando que “Donald Trump abriu o caminho para uma vitória de Bolsonaro”.
Pierce também atuou
anteriormente como funcionário do Departamento de Habitação e Desenvolvimento
Urbano durante a administração de George Bush pai e como importante arrecadador
de fundos do presidente George W. Bush. No governo George W. Bush, ele alcançou
o status de “Pioneiro”, um elogio dado aos apoiadores que levantaram pelo
menos 100 mil dólares para
as campanhas de Bush. Em 2009, Pierce se declarou culpado de fazer
contribuições ilegais para campanhas, usando o nome de outra pessoa. Ele foi
condenado a três anos de
liberdade condicional.
Imagens de mídias sociais mostram Pierce, Felix e
outros funcionários do InterAmerica Group aparecendo, na descrição de Pierce, com
membros da administração do presidente Donald Trump e em eventos de movimentos
conservadores, incluindo a convenção CPAC e com o Turning Point USA.
Lima não é a única autoridade
brasileira a estabelecer laços com políticos amigos de Trump.
O Intercept informou
anteriormente que o antecessor de Lima, o governador Amazonino Mendes, assinou
um controverso contrato de US$ 1,6 milhão com a Giuliani
Safety & Security, uma empresa de consultoria afiliada a Rudy Giuliani,
agora advogado de Trump. O estado do Amazonas sofre historicamente com a
pobreza, o contrabando de drogas e a criminalidade – problemas que Mendes
prometeu resolver através do contrato com a empresa de Giuliani.
As discussões com o
InterAmerica Group estão entre os muitos laços americanos com a expansão dos
negócios na Amazônia. Em abril, a Câmara de Comércio Brasil-Americana, um grupo
comercial que representa os principais interesses bancários e de commodities, realizou
um evento para tratar como os investidores americanos podem
tirar proveito do agronegócio brasileiro no atual clima político.
Tradução: Cássia Zanon
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