Não pode ser de simples restauração para o que existiu antes do golpe de 2016, nem antes de 2013. Tem que rever todos os caminhos tomados a partir da queda, de podre, da ditadura civil-militar que havia sido instalada em 1964.
Esses caminhos não foram corretamente escolhidos, nem foram
completados. No processo muito do que
nós da esquerda queríamos foi sendo posto de lado, de maneira mais ou menos
consentida, mais ou menos consciente.
Nós queríamos democracia. No início do processo, queríamos
assegurar que existissem mecanismos suficientes para que os interesses e as
vozes de todos fossem integrados ao jogo político– o que implicava na introdução de práticas que não tinham nenhuma
tradição. Esses mecanismos não foram destaque na discussão ou na redação da
Constituição de 1988. Alguns deles apareceram mais tarde, levados por movimentos
sociais, sindicatos e partidos de esquerda. Parte deles chegou a ser adotado
por governos de esquerda (principalmente o PT), como o orçamento participativo.
Não tiveram continuidade.
Enquanto isso, os que fizeram o golpe de 1964 não perderam
nenhum naco dos instrumentos que tinham para melar o jogo. Políticos conservadores, a mídia,
os comandos militares, as polícias, principalmente militar, continuaram com
suas balas nas respectivas agulhas. Enquanto isso, os agrupamentos da esquerda
deixavam de lado o combate, acreditando no desarmamento democrático.
Em 1985 os militares deixaram o controle direto do
executivo, mas consolidaram posições no aparato repressivo. As forças armadas
continuaram a comemorar o golpe de 1964 e a defender a repressão, inclusive as
torturas e assassinatos do regime. As polícias militares permaneceram
doutrinando seus quadros contra as organizações dos trabalhadores, como
sindicatos, e movimentos sociais, como MST, MTST, organizações de defesa de
índios, quilombolas. Nada foi feito seja na mídia, no judiciário, nos
executivos, inclusive os de esquerda ou de centro esquerda, para tentar mudar essa
doutrina das polícias e suas práticas violentas e frequentemente criminosas.
Assim, as forças da ditadura do capital no Brasil partem de
uma situação em que vários dos instrumentos de repressão já estavam em
latência para serem aplicados, ou funcionando em câmara um tanto mais lenta, como na atuação das
polícias contra pobres em geral, e contra organizações de trabalhadores e
movimentos sociais, sempre apoiados pela atuação de maiorias no ministério
público e na magistratura.
Nesta fase de reinstalação da ditadura do capital, o mais importante
para a esquerda resistir. Mas resistir é pouco, é triste. Rogério Correia, do PT-MG,
proclamou a necessidade de estatizar a Vale. Acredito que é um bom passo que
aliás reflete propostas de agrupamentos e partidos anticapitalistas em todo o mundo, de
passar ao controle estatal – evidentemente sujeito ao controle social, todos os
empreendimentos que, por força do poder de monopólio ou oligopólio, produzem
desastres ambientais e aumentam de maneira explosiva a desigualdade. Claro que uma atenção especial teria que ser dada para tornar o Banco Central realmente independente, ou seja independente da banca privada, ou estatizar o sistema bancário.
Um próximo post deste blog traz a visão de um jornalista estadunidense publicada
no Counterpunch, sobre temas similares. Muito bem escrita, vale a pena ler.
Claudio
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