O momento é de tentar colocar as ideias em
ordem. Evidentemente, o que vai abaixo não é destinado a eleitores do palhaço
violento, profeta do ódio e da divisão, que só chegou até onde está hoje graças
a quem o apoiou até agora. Os que nos opomos a essa nova noite com que ameaçam o país somos
bastantes para resistir e mais adiante fazer voltar a razão e a busca da
justiça.
Estamos envolvidos em uma guerra mundial
É fundamental conhecermos o fato de estar em uma guerra,
mesmo os que não são participantes ativos dela.
Quando existe um mínimo de confiança dentro da sociedade nas atitudes
dos outros e das instituições de estado, é muito diferente do que estamos
vivendo. A primeira grande perda com o estabelecimento de uma situação de
guerra é a destruição da sensação de segurança. Segurança sobre o que é verdade
compartilhável com outros seres humanos, segurança sobre as regras de convívio
social, segurança contra ameaças físicas vindas de grupos e indivíduos
estranhos.
Para o Brasil, com a ascensão do fascismo, a política passa
novamente, depois de 54 anos, para uma dimensão da tragédia. As questões em
jogo e os atores estão se aclarando, e as ações de todos passam a ter caráter
imperioso e inevitável.
O que já vem ocorrendo e que independente dos resultados de 28
de outubro continuará, pode ser resumido aqui.
· A atuação violenta da direita é histórica no
Brasil (e no mundo), mas interessa olhar para as formas que essa atuação vem
tomando desde a promulgação de agora finada Constituição de 1988:
- · A lei da anistia, promulgada por João Batista Figueiredo em 1979 deu o tom de tudo o que veio depois, inclusive a Constituição. A transição para a democracia formal acabou não incluindo a desativação do aparelho de repressão da ditadura, ou com o enquadramento efetivo das forças armadas como um corpo sujeito ao controle civil.
- · Ações violentas de direitistas nunca deixaram de existir. Na realidade, foram sempre crescendo desde a redemocratização, inclusive pela falta de força e de vontade dos órgãos de Estado que deveriam coibi-la. Como resultado o espaço para um compromisso em torno da democracia praticamente desapareceu.
- · Há muito tempo somos espionados. O centro da espionagem está nos EUA. Eles espionaram a Petrobras, a presidenta do Brasil, e a população em geral, esta através dos e-mails, telefones, internet, Microsoft, Facebook, Google, Whatsapp e outros, a partir de palavras-chave, nomes, o escambau, para informar suas ações. Uma delas o início da Lava-Jato, através de seu agente Sergio Moro, que recebeu resultados da espionagem do governo dos EUA sobre a Petrobras.
- · Os EUA precisam trazer o Brasil para a submissão anterior: venda das reservas de petróleo baratinho, a austeridade que seus bancos exigem dos outros países, livre acesso à terra e aos recursos naturais para estrangeiros, alinhamento automático da política externa, participação em alguma aventura contra a Venezuela, quem sabe com uma participação imposta à Colômbia.
Não é uma guerra convencional, entre países. Trata-se do que
atualmente se chama guerra híbrida, originalmente formulada como conceito pelo
império estadunidense e praticada em todas as partes do mundo, fora os países
com recursos militares e coragem para coibi-la em seus territórios. Utiliza em
grande escala as mais modernas armas de combate ideológico e militar. Começa
com a fabricação de mentiras – grandes e pequenas, que são transformadas em
verdades para serem entregues e adotadas, pelos grupos que se identificam com
os donos do poder, e também voltados para os extratos cultural e economicamente
mais vulneráveis da população.
Fazem parte dessa guerra a incitação a ações violentas
contra políticos e ativistas de esquerda, ou de qualquer setor da sociedade que
se oponha ou esteja de algum modo obstaculizando a expansão do discurso ou da
tomada de território pelo capital em suas diversas formas. Nesse processo, são
cooptados setores do estado preexistente, supostamente democrático, como
polícias e forças militares. O objetivo por trás disso tudo é terrível, tratar de extinguir
a luz do pensamento que possa se opor ao domínio total do Capital. Não vão
conseguir, naturalmente, mas sabe-se lá quantos estragos vão fazer enquanto
isso.
O império atua
fornecendo armas ideológicas e físicas aos agrupamentos da direita,
tradicionalmente, e agora aos grupos de ultradireita. Mas as ações da guerra são
planejadas e executadas em múltiplos centros, e de maneira autônoma inclusive
por operadores individuais. É uma guerra de classes, como comentou o
megainvestidor e membro dos 0,1 % Warren Buffett, em uma tirada em que ele chegou
a proclamara vitória (final) da classe dele sobre o resto. Ele não incluiu
expressões de júbilo ao expor essa afirmação. E temos o direito de supor ser um
tanto exagerado considerar as destruições e tomadas pelo capital financeiro nas
últimas décadas como finais e definitivas. Existem dentro dos partidos de
centro esquerda nos países ricos grupos, cuja influência vem crescendo, que
propugnam uma virada contra a agenda neoliberal no front doméstico, e o
abandono das políticas de dominação do mundo. Falaremos mais disso mais
adiante.
Destruições de setores do Estado e tomadas de patrimônios
públicos, em proveito dos interesses do capital financeiro. Esses processos vão
sendo executados concomitantemente. Já vinham de antes. Na realidade, eventos
semelhantes ocorrem desde sempre na sociedade brasileira. A atual ofensiva golpista
teve início em 2013. Manifestações principalmente de estudantes contra o
aumento de tarifas de ônibus urbanos repentinamente começaram a ser tomadas por
grupos organizados via WhatsApp. Esses grupos rapidamente se apoderaram das
manifestações, imprimindo a elas um caráter violento e contra o governo federal
e o PT. Mais adiante no ano, quando Dilma Rousseff conseguiu ser eleita apesar
da campanha midiática-judiciária, e das primeiras manifestações massivas contra
o governo, coordenadas pela rede Globo e pelos grupos de Whatsapp, o PSDB
contestou a vitória apertada mas nítida nas urnas e começou a seguinte etapa do
golpe, ao começar as articulações com outros partidos, o Judiciário, a Polícia
Federal e a Mídia para o impeachment de Dilma.
Não tínhamos ideia de como esses grupos atuavam. Porque
todas as investidas, dos black blocs, dos mentirosos e caluniadores, pregadores
racistas e homofóbicos começaram à margem, crescendo aos poucos, ocultando a
identidade, culminando com a criação de exércitos de robôs. A esquerda ignorou
por muito tempo que já estávamos em guerra, e tentou o combate democrático, o
que se mostrou desastroso. No processo, a democracia foi sendo reduzida a cacos
por gente de dentro do Estado brasileiro: mídia, justiça, polícias, chefes
militares.
A maior fonte das tomadas pelo setor financeiro, na fase
atual da guerra são as rendas do Estado, atingidos pelos mecanismos de dívida
pública configurados exatamente pelo setor financeiro. Deste, os nacos tomados por
corte de verbas para os serviços públicos, mais isenções de impostos para os
ricos, além das privatizações de empresas públicas. Estas últimas passam a ser
geridas não mais para assegurar à população e às empresas a serviços adequados,
com tarifas módicas, mas exclusivamente para gerar lucros (com muita propaganda
sobre as vantagens da gestão privada, e escondendo esse fato). No processo os serviços
públicos passam a ter a oferta reduzida, com a qualidade deteriorada.
Águas e
esgotos, energia elétrica, transportes urbanos, regionais, nacionais e
internacionais tornam-se mais caros e mais precários, enquanto o estado se
enfraquece ainda mais. Banqueiros e rentistas são os beneficiados.
Com a eventual subida do fascista chefe, as tomadas
financeiras devem se acelerar ainda não se sabe quanto. O setor financeiro vai se apropriando de mais
e mais rendas da economia produtiva, que são desviadas para servir de lastro
para as suas operações de especulação.
O capital joga fora muitas das ferramentas de legitimação,
ou respeito, que tinham junto às pessoas comuns, porque sente que não precisa
mais. O lucro imediato, por necessidade ou convicção, passou a ser o único
balizamento forte de suas ações.
Que esperar da ação nas ruas? Somos, nós da esquerda, como
nacionais de uma terra invadida. Não temos massas, muito menos armas para
rechaçar as patrulhas fascistas, que pretendem nos reduzir ao silêncio. Como
nos fascismos europeus originais, polícia, juízes têm sido e permanecerão leais
aliados dessas patrulhas. Os chefes militares, inclusive das polícias militares,
voltam a abertamente fazer política no estilo gangster, baseados em ameaças e
violências. É preciso encarar: não existe mais jogo democrático. Os grupos
ativos, divididos entre esquerda e direita, são inimigos. Os ricos, que têm se
tornado mais e mais convictos de que a prosperidade depende da piora da
situação dos pobres, as corporações dos ricos e da mídia, justiça, polícias,
militares, são todas inimigas e como tais devem ser encaradas.
O enfrentamento vai exigir que o nosso lado selecione formas
de combate ao mesmo tempo efetivos e prudentes. Não há, em guerra, formas de
combate leais, é preciso inclusive aprender com as táticas do inimigo. Excluída
a mentira: Quem está por baixo deve conquistar e manter a confiança da maior
parte da população, que só pode ser conquistada e mantida com a verdade dos
fatos, mesmo que isso implique em expor nossas fraquezas e erros.
Buscar aliados em grupos menos distantes, e apoio mesmo em
empresas como os gigantes Google, Whatsapp, Microsoft, Facebook deve ser uma
prioridade. Essas corporações estão sujeitas a escrutínio nos países em que o
domínio do capital é menos absoluto – como EUA e União Europeia, e podem ser
obrigadas a limitar a ação dos grupos de ativistas da ultradireita na difusão
de mentiras e nas suas táticas de intimidação mesmo aqui no Brasil.
Lá no centro do império, os EUA, em contraste com os gastos
em obras de infraestrutura e serviços destinados à população, em franco
declínio devido a políticas neoliberais que lá também vão atuando existe uma
atividade do Estado, que continua em expansão muito forte: os gastos militares e
de espionagem, no país e no exterior, inclusive com o desenvolvimento de novas
armas e estabelecimento de novas bases militares. O objetivo final foi formulado já vários anos
atrás. Dominação de espectro total dos Estados Unidos, ou em inglês full spectrum dominance. Não vão
conseguir porque existem potências capazes de opor limites, mas no que eles
consideram seu quintal, vão sempre tratar de fazer.
No momento grandes partes do mundo vivem sob governos democráticos. Os brasileiros conscientes são muitos.
Um comentário:
Acho que o ponto principal é o petróleo... como sempre.
O governo do PT conseguiu, através de investimento e pesquisa, descobrir o óleo no pré-sal e, repetindo... com pesquisa e investimento, conseguiu também extraí-lo.
O Brasil hoje é quase auto-suficiente.
Além disso criou condições para a fabricação de navios petroleiros e plataformas.
A Petrobrás, apesar da bandidagem que exite há um bom tempo, se tornou uma das maiores do mundo.
Houve corrupçao... Houve sim, mas não tinha um genro do presidente liderando as negociatas!!!
os corruptos devem ser presos e devolver o que ganharam ilicitamente... desde que possa ser comprovado.
Ao mundo financeiro internacional, uma guerrinha entre Brasil e Venezuela, seria muito bem vinda!!!
Esculhamba de uma vez com os dois maiores produtores de petróleo da América co Sul e cria mais um mercado consumidor de armamentos....
Que beleza!!! A Boeing fabrica aviões militares na Embraer e manda os royalties para ela mesma!!!
Aí o petróleo sobe e a turma das arábias (onde as irmãzinhas se locupletam) vai se deliciar...
E nossos meninos vão lá morrer heroicamente pela pátria amada! Salve Salve!!
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