DOM, 07/08/2016 - 15:05
no Senhor X
por Fernando Rosa
Em meados dos anos setenta, o general Ernesto
Geisel, então presidente do Brasil, inaugurou uma nova fase da política externa
brasileira em relação aos Estados Unidos. Assinou o Acordo Nuclear
Brasil-Alemanha, que resultou nas usinas Angra I e II, provocando grande tensão
com os ainda parceiros da “doutrina de segurança nacional”. Também abriu
relações diplomáticas e comerciais com a República Popular da China, desafiando
o núcleo duro dos militares, então comandado pelo general Silvio Frota.
Na época, questionado sobre a proposta de
aproximar-se da China, “porque era comunista”, Geisel foi taxativo na defesa de
uma política de multilateralidade nas relações internacionais, segundo conta o
livro “O caso dos nove chineses”. “Se vocês querem ser coerentes, então, vamos
cortar relações com a Rússia também e vamos nos isolar, vamos virar uma colônia
dos Estados Unidos”, respondeu ele, mantendo a sua posição. E desde então, a
relação entre Brasil e China cresceu até chegar aos níveis atuais.
Passados quarenta anos, nesta semana os golpistas
interinos decidiram dar mais um passo para revogar a política externa
brasileira, desde Geisel, e retornar ao alinhamento submisso aos Estados
Unidos. A declaração de imprensa do ministro de Relações Exteriores José Serra
com o Secretário de Estado dos EUA é uma afronta à soberania nacional. Talvez
seja a peça mais acovardada de um representante de Estado diante de outro
representante de Estado, fora de épocas de guerra – vejam o vídeo abaixo.
A presença do Secretário de Estado John Kerry, por
si só já deu a dimensão do tipo de relação que os Estados Unidos têm para
oferecer ao Brasil, muito distante de investimentos econômicos. O único
interesse americano no Brasil é militar, é garantir a instalação de suas bases
militares em território nacional, como já fez na Argentina. É também fazer do
Brasil um parceiro de sua política mundial belicista de “combate ao terror”,
para transformar nossos vizinhos em inimigos, traficantes e “bases” do EI.
Na declaração à imprensa, o ministro José Serra
deixou claro a sua cumplicidade com a estratégia geopolítica norte-americana
para o continente sul-americano. Alinhando-se ao discurso hipócrita do Império,
Serra destacou a parceria para “defender a democracia e os direitos humanos” no
Brasil e na região. As cenas explicitas de “viralatice” chegaram ao ponto
do ministro José Serra “abrir” infantilmente seu “voto” a senhora Hillary
Clinton, em meio ao riso amarelo de Kerry.
Isso, enquanto segue em curso no país um golpe de
estado, em boa parte operado por ele e pelo seu partido, o PSDB, derrotado nas
últimas eleições realizadas no país. Também ao mesmo tempo em que cidadãos são
presos e expulsos dos estádios apenas por exercerem seu direito democrático de
discordar dos golpistas. Ou que, um juiz praticamente filiado ao PSDB, pede a
cassação do registro de um partido, o PT, situação registrada anteriormente
apenas em tempos de ditaduras.
Aliás, o alinhamento suicida e vira-lata aos
Estados Unidos, pelo visto, é o que resta aos golpistas, tamanho seu isolamento
mundial, ainda mais evidente depois da abertura das Olimpíadas.
A Olimpíada reúne 206 nações, mas apenas 18 chefes de Estado e de governo
compareceram à abertura, segundo revelou o Estadão, que não teve como esconder
o fiasco diplomático. A Copa do Mundo, em 2014, para comparar, menor e com
muitos menos interesse oficial, contou com representantes de 32 países.
O grande gesto diplomático, ao contrário da
rendição “explícita” da declaração à imprensa, foi dada pelos atletas chineses,
na passarela das delegações, longe do oportunismo politiqueiro de Serra e seu
“amigo” Kerry. Segurando as duas bandeiras – da China e do Brasil – fizeram
mais do que apenas “tentar” ganhar a simpatia da torcida brasileira, como
disseram os estúpidos comentaristas das televisões. Trataram as relações dos
países com a dimensão de amizade, cordialidade e respeito entre povos.
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