(Agradecendo
o blog do Miro)
Alckmin recuou da truculência, e a revogação do aumento do
preço das passagens de metrô e de ônibus por Alckmin e Haddad, uma importante
vitória foi alcançada, produto de uma grande mobilização, que surpreendeu a
todos. Um paradigma foi desafiado e muitos jovens perceberam que podem influir
sobre a política. E agora?
É tentador para alguns pensar que essa forma de fazer
política é melhor do que as outras. Já uma
participante das manifestações de rua movimenta-se para empolgar todo o
movimento e impor sua agenda própria, continuando as marchas pelas cidades. A
direita, golpista como sempre.
Agora se trata de levar palavras de ordem no meio de uma
massa despolitizada, falando contra os “políticos” (na realidade contra os
políticos de centro ou centro-esquerda). Talvez não esteja nos cartazes de
agora em diante, mas inclui o linchamento dos réus do chamado “mensalão”, o
ataque contra as políticas que têm possibilitado a melhoria da condição
econômica dos mais pobres, como a bolsa-família e a elevação do salário mínimo,
e contra uma política externa brasileira que prioriza relações com a América do
Sul, África, BRICS, e que não se alinha automaticamente com o grande irmão do
norte.
No discurso, esses não inocentes de classe média são contra
tudo, e atribuem todo o mal aos outros, visa políticas mais à esquerda, mas
atira contra todos os que agem na política o que inclui todos os partidos. Seu
discurso evoca o exemplo do cômico Beppe Grillo, muito popular na Itália, que
falava contra todos os políticos e acabou tendo uma grande votação nas recentes
eleições nacionais daquele país. Quando
se tratou de transformar essa grande votação, que elegeu uma parcela importante
dos parlamentares do partido de Grillo, em ação responsável no mundo real, ele regateou,
permaneceu de fora e acabou murchando como balão de ar quente em uma eleição
regional meses depois. Voltou a ser um cômico, agora um tanto menos popular,
enquanto os italianos agora vão percebendo que apenas perderam tempo.
No Brasil, essa pregação de uma oposição generalista e
niilista está tratando de tomar para si as manifestações de rua que começaram
com o aumento das passagens de ônibus e metrô e que a direita parece pretender
prolongar indefinidamente, agora reclamando de “todo o resto”. O problema é que grande parte dos jovens que
participam dessas manifestações não sabem o que reivindicar fora o que lhes vem
dos interesses imediatos de sua classe de origem, a partir de uma visão de
negação que é fruto da inexistência de canais eficazes de participação
política. Eles sabem que ninguém controla o poder das grandes corporações, dos
bancos, e de inúmeros interesses privados com poder de lobby junto aos diversos
governos, parlamentares e juízes. Essa impotência, facilitada pela falta de
interesse dos grandes partidos em afrontar esses grupos, tende a inspirar comportamentos
violentos, com a participação de provocadores e de desordeiros oportunistas, que
a direita favorece porque é a deixa para que ela passe à violência política,
através da ação policial, e de pequenos e grandes golpes de estado, para justificar
a volta à paz, a sua (deles) paz.
O PT tem grande responsabilidade nessa situação, por ter na
ação política relegado sua visão de transformação profunda da sociedade e
desprezado suas ligações com os movimentos populares e sindicatos à condição de
meros apoiadores passivos. A esquerda em geral também é responsável por sua falta de criatividade e iniciativa em
uma realidade que muda a olhos vistos. É necessário agir, viver é perigoso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário