Os adversários de sempre do PT e da esquerda, e alguns novos
inclusive situados na esquerda, que eventualmente apoiaram ou participaram de
algum modo em governos do PT, estão empenhados em demonizar esse partido,
passando a atribuir a Lula e seus companheiros a maior parte da corrupção e favorecimentos
a grupos privados ou ao capitalismo em geral nos últimos anos.
No processo essas pessoas, armadas de uma indignação
seletiva, parece quererem matar, extinguir o PT. Como Catão pregava para o
Senado Romano a necessidade de destruir Cartago, Delenda est Cartago O motivo para Catão era a
necessidade de enfrentar um rival poderoso da Roma, com o Império ainda
expansão. Roma enfrentou, e no fim das três guerras Cartago foi não somente
destruída, mas totalmente arrasada, à maneira de um bom bombardeio moderno.
Lembra um pouco (um pouco só) o que ingenuamente
acreditávamos todos os que lutávamos de algum modo contra a longa ditadura
civil e militar de 1964 a 1985. Com liberdade, e depois derrotando nas urnas os
partidos conservadores e reacionários, estaria aberto o caminho para um Brasil
mais livre, soberano, mais rico e mais justo, livre dos políticos da ditadura.
Ou seja, destrua-se a ditadura, tudo florescerá. Apesar de você...
Não aconteceu assim, nem era para acontecer assim, porque as
sociedades humanas são feitas de pessoas munidas de insuficiências e de caráter
corrompível, este de várias formas, inclusive a corrupção dos que enriquecem e
dos que se desviam do bem público para cultivar o próprio prestígio e
poder. A correlação das forças políticas
nunca permitiu, e continua impedindo, que o uso da máquina do Estado e da
riqueza pública seja submetido exclusivamente ou mesmo apenas majoritariamente a
critérios republicanos. Os privilegiados permanecem enquistados em todas as
instâncias de poder.
Se o PT acabasse, o que passaria a ocupar seu espaço? Porque
movimentos como o MST, e sindicatos de professores, muito críticos, com razão,
do governo federal, não se juntaram à oposição política e se recusam a aderir
ao coro orquestrado de desconstrução do PT e do lulismo?
Não basta derrotar os maus para que os bons assumam. É
preciso que haja bondade em quantidade razoável, tanto entre os nossos como
entre os vossos. É preciso que os que atuam na política – políticos,
jornalistas, empresários, sindicalistas, a embaixada, concordem em não usar
jogo sujo. E vigiar para que quem tenha oportunidade, não a use para roubar ou
usurpar poder das pessoas comuns. Todo
poder gera abuso, e nenhum cargo santifica ninguém, quem abusa deve ser
combatido, mas o principal inimigo é a tirania. Tirania do poder concentrado,
tirania do pensamento único, tirania dos fundamentalismos. Tirania do racismo,
da reação contra a difusão da cultura, da reação contra a ascensão dos grupos
sociais até hoje marginalizados.
O PT deixou de ser o instrumento da emancipação que muitos
de seus componentes iniciais esperavam. Talvez a característica de conciliação entre
interesses, encarnada por Lula, tenha definido desde o início que não o seria.
Tornou-se parte da elite conservadora que dirige o Estado. Isso significa que
se tornou inimigo da emancipação? Que
criminaliza os movimentos populares e os sindicatos? Perdeu um bocado de relevância ao renunciar a
enfrentar os interesses do capitalismo financeiro, que defendem juros altos, a
gestão desregulamentada por grupos privados dos serviços públicos, a entrega
das rendas provenientes da extração de recursos naturais valiosos à exploração
para outros grupos privados. De qualquer maneira, o PT podia enfrentar a todos?
Como disse Raimundo Rodrigues Pereira (veja
o vídeo),no caso do “mensalão” o PT está sendo atacado não pelos seus
erros, mas por uma iniciativa jurídica que não se sustenta, em que o Supremo
Tribunal Federal mais uma vez atuou não de acordo com as práticas jurídicas mas
seguindo outros poderes, ou seja, a mídia comercial e seus partidos políticos.
Outras vezes em que o STF abriu mão de ser independente foram o caso em que
negou habeas corpus a Olga Benário que estava sendo deportada grávida para ser
morta na Alemanha Nazista, e a declaração falsa de presidência vaga por João
Goulart no golpe de 1964, como lembrou
Fernando Morais.
Os “erros” do PT incluem a traição aos objetivos de pessoas
e grupos que ajudaram a fundar e fazer crescer, e já não cabem neste post. Talvez no próximo.
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