O que é que une pessoas dentro de grupos, dentro da
sociedade?
Um adepto de correntes de pensamento que postulam a
sociedade como basicamente um ajuntamento de indivíduos que competem o tempo
todo entre si, teria dificuldade para colocar em seu modelo as relações
familiares, e as formas de trabalho cooperativo – desde as caçadas e expedições
de coleta de alimento das sociedades mais antigas, aos grupos de combate, times
de construção de ocas e centrais nucleares, pajelança e medicina antiga e
moderna, para dar apenas alguns exemplos soltos dentro das intrincadas teias
que formam as sociedades modernas.
O que falta nesse modelo é que seria bom falar aqui. Quando
dois indivíduos se encontram, não há apenas a reação agressiva ou de fuga, ou
de domínio e submissão (muito presentes nas sociedades escravocratas). O que
existe a mais – e está presente nas várias manifestações amorosas destinadas à
reprodução como acasalamento e criação da prole, seria a aproximação em que as
sensações de si entre os indivíduos se misturam e se fundem um pouco ou muito.
Há uma troca. Troca de posições entre sujeito e objeto.
Em vez de conflito, há uma aproximação de reconhecimento e alguma
forma de empate, mesmo que provisório - empatia. O empate pode ocorrer já num
primeiro momento, ou ao fim de um processo de reconhecimento mais ou menos
agressivo entre os indivíduos que dividem o espaço. Em um determinado momento,
surge um desembarque da consciência para o outro. Se houver bastante empatia, forma-se
um ambiente em que o conjunto é muito mais poderoso do que a soma entre as
partes.
Pois o que vem ocorrendo no Brasil desde meses antes das
eleições de 2012 – pregações de fatos adversos e mentiras puras, através das mídias
e das redes digitais sociais, contra o PT (sobrando para a esquerda em geral,
os tais “comunistas”, “petralhas”, “membros do foro de São Paulo”), mal
disfarçando o ódio social contra os mais escuros e os mais pobres, vem
destruindo muito da empatia que ainda prevalecia dentro do tecido da sociedade
brasileira.
Para voltar a ter, e aumentar para o nível em que este
desgraçado país venha finalmente a funcionar como nação, para superar a
condição de feitoria para exportar recursos minerais e produtos oriundos das
plantações industriais e pecuária amazônica, enquanto se mantém do lado de fora
os que poderiam produzir alimentos para a população, enquanto a indústria vai
sendo desmontada e os banqueiros continuam a aceleradamente encher cada vez
mais as suas burras de riqueza, é urgente reparar a capacidade de empatia em
toda a população.
Se um governo progressista for eleito, e mesmo que eles
consigam impedir, há que enfrentar os discursos e as práticas do ódio e aplicar
toda a energia disponível no enfrentamento aos fascistas, racistas, xenófobos,
portadores de ódio em geral. É animador que os programas do Haddad deem ênfase
a cenas que inspirem sentimentos de solidariedade. Mas se tudo der o mais certo
possível, mesmo assim serão muitos anos e muito trabalho a ser feito para
colocar o grau de empatia de que precisamos.
E estar preparados para, a par de ações para começar de fato
a reduzir a brutal desigualdade do Brasil de hoje, enfrentar a violência
generalizada no campo e nas cidades, e possibilitar enfrentar os já inevitáveis
efeitos de destruição ambiental que o capitalismo sem freios tem imposto a
todos.
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