Para o Brasil como para outros países da América, pode-se
postular que tudo começou com o fim da escravidão, uma iniciativa de libertação
que resultou muito limitada para a melhoria de condições de vida dos antigos
escravos. E no modo como as classes dominantes, e seus intermediários na gestão
de seus negócios e na atuação do Estado - as classes médias, viam e tratavam os
antigos escravos e os trabalhadores manuais em geral. Desprezo, grosseria,
paternalismo, desrespeito.
A imprensa, depois a mídia desde sempre ocupadas pelas
ideologias das classes dominantes,
sempre favoreceram e fortaleceram essas atitudes dos setores majoritários
das classes médias em relação a pessoas mais escuras e mais pobres.
A violência escravista conviveu com, e reforçou a violência
contra trabalhadores rurais e pela violência fundiária que perduram hoje, pelos
grandes proprietários de terras, estes ligados, como desde o início da
colonização do Brasil, ao grande capital. No tempo do Brasil Colônia até o
século 20 o Capital Mercantil, e atualmente o Capital Financeiro. Sempre
“modernos”.
O liberalismo econômico do século 19 foi revivido em novas
formas no neoliberalismo que estreou no Chile em 1973. A ditadura brasileira do
período 1964 – 1985, que se instalou com o mesmo apoio dos setores reacionários
e dos Estados Unidos, só perdeu apoio externo quando começou a trilhar caminhos
que não eram aprovados pelos estadunidenses.
Como Jessé Souza mostra em seu livro A Elite do Atraso da
Escravidão à Lava-jato, há uma continuidade de violência privada e estatal em
toda a história do Brasil. Em grande parte apoiada e incorporada por setores
majoritários da classe média.
Essa violência – midiática, verbal, digital, policial,
judiciária, política, intensificou-se e generalizou-se a partir do processo do
mensalão do PT, em que casos de caixa dois de campanha foram usados
seletivamente contra o partido e seus líderes. A condenação e prisão de
políticos como José Genoíno, José Dirceu e Henrique Pizzolato iniciaram a fase
judicial dessa onda.
Golpe
Como não foi efetiva em impedir a reeleição de Lula em 2006
e as duas eleições de Dilma, a ofensiva mudou de patamar durante o primeiro
governo Dilma, em 2013, quando manifestações localizadas contra o aumento das
passagens de ônibus municipais foram tomadas por grupos organizados “não-partidários”,
que derem início a uma exclusão dessas manifestações de agrupamentos de
esquerda, mediante ações violentas.
Logo teve início a operação Lava-Jato, centrada em um juiz
federal de Curitiba que tinha recebido treinamento, e certamente informações do
Departamento de Justiça (ministério) dos Estados Unidos. Nessa época as
revelações do analista estadunidense Edward Snowden incluíram a espionagem e
grampeamento sobre a presidenta Dilma e sobre a Petrobras.
É quando o PNL começa seu trabalho acelerado de desmontagem
das instituições democráticas no Brasil. Neste trabalho, teve a participação de
forças nominalmente de esquerda, por inação ou por inépcia. É necessário
lembrar o papel decisivo do segundo governo Dilma
Por inação, basta lembrar a permanência de José Eduardo
Martins Cardozo no ministério da justiça. Não só permitiu a quebra de comando
na Polícia Federal como se omitiu vergonhosamente perante o seletivo justiçamento
de seus companheiros de partido Dirceu, Genoíno, Vaccari e Pizzolato. Dilma só mudou
o ministério para alguém capaz, e disposto ao enfrentamento, quando era tarde
demais para uma reação efetiva. Por inépcia, a traição de Dilma ao convocar um
banqueiro para comandar uma agenda neoliberal no governo, logo depois de ser
reeleita exatamente para combater essa agenda.
Enquanto isso a ala minitar do PNL começou a flexionar os
músculos. Nos panelaços destinados a impedir que as pessoas ouvissem os
pronunciamentos da presidenta ou os programas eleitorais do PT, nas
manifestações com camisetas da seleção brasileira de futebol que arrastaram
milhões “contra a corrupção”. Desta vez uma ala minitar, formada basicamente
das parcelas protofascista e liberal da classe média (nomenclatura adotada por
Jessé Souza), substituía uma ala militar, como a acionada em 1964 ou as alas de
ação terrorista de alguns movimentos independentistas mais ou menos recentes da
Europa (Irlanda, País Basco). O nome minitar é também uma homenagem aos
componentes entusiastas de Jair Bolsonaro, conhecidos na esquerda como
bolsomínions.
Minitares e a
conjuntura
A ala minitar padece de falta de racionalidade democrática.
Mesmo assim tem um conjunto de inimigos a combater, que
herdou de ondas conservadoras anteriores: comunismo, a “orgia LGTB”, a
liberdade feminina, os objetos da ciência que possam ser atacados a partir de grupos
religiosos fundamentalistas. A agenda oculta, que a própria ala minitar em
grande escala desconhece, é a defesa do verdadeiro núcleo do programa do PNL:
Expansão do alcance da dominação, pelo capital financeiro,
de todas as instâncias do mercado de bens e serviços, com a destruição das
prerrogativas sociais que limitem essa dominação, inclusive dos aparelhos de
estado nacionais, com a exceção do governo dos Estados Unidos.
A ala minitar é complementada na ação, em todo o mundo,
pelas empresas de mercenários, contratadas tanto pelos governos dos Estados
Unidos e seus aliados, e também, parece, da Rússia, como pelas corporações,
diretamente. Essas empresas estão em franca ascensão.
Atualmente a ala minitar encontra-se desmobilizada,
possivelmente em função da contradição de ter contribuído decisivamente, em
suas mobilizações coordenadas pela mídia e pelos exércitos de “ativistas” reais
e virtuais das redes sociais, para a instalação no poder político de grupos
notoriamente corruptos.
Por outro lado, os minitares não abandonam a mobilização
contra as universidades públicas, e manifestações culturais várias, através de
seus corpos permanentes – MBL, Vem pra Rua, Escola sem Partido e outros,. Por
trás desses ataques está a estratégia de minar o estado democrático e a livre manifestação
e debate de conceitos, opiniões e notícias gerados fora da mídia dominante, dos
grupos acadêmicos e dos think tanks
do capital financeiro coordenados no PNL.
Os think tanks na realidade não geram pensamento novo, mas basicamente
ocupam-se em elaborar discursos para o PNL. Possuem intelectuais que são
intelectuais de aluguel, que são parte dos “especialistas” que são chamados
para deitar sabedoria pela mídia.
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