Essa mente hoje está mais aberta? Mais fechada? As pessoas têm condições de captar a (uma) realidade
objetiva?
A mente individual é sujeita a fechamento voluntário (FVM),
por vários mecanismos, como as restrições sobre o que é moralmente aceitável, ou
racismo, antipetismo, distanciamento dos pobres e de outros "deficientes".
Ainda estamos chocados com o andamento do golpe, primeiro na
pregação da mídia e dos políticos, depois no caradurismo da polícia federal e do
judiciário, refletidos ainda em grande parte do público, que apoia e aderiu ao
golpe e ao mesmo tempo parece incapaz de perceber o nível de corrupção inédito
a que chegou o parlamento brasileiro.
Não houve uma discussão sobre o golpe, não uma discussão verdadeira.
Não basta, aliás, nunca bastou, nas sociedades humanas ter
razão e possivelmente nunca bastará. A mente humana lhe dá atenção bem pequena,
comparada com seus preconceitos e medos originais ou adquiridos.
Existe a ciência. Acima das paixões, livre de controvérsias?
Nunca foi e assim permanece! O fundamento da ciência, que é o empirismo, a
verificação, permite o enunciado de “fatos” e de “leis” no mundo material e no
mundo do pensamento. O iluminismo postulou a hegemonia da ciência e da razão.
Mais de duzentos anos depois de sua aparição, verifica-se que não é assim que
funciona.
Na “ciência” econômica, em que é difícil separar teoria de
normas de conduta prescritas para seu bom funcionamento (para as classes
dominantes) é praticamente impossível permitir que teorias que favorecem
poderosos sejam desmentidas nas mentes individuais dos seres “pensantes”, por
mais que os fatos as contradigam. É o caso da economia das migalhas que caem da
mesa, (trickle down economics, no
inglês original). Na realidade, isto é parte da ideologia através da qual os 1
por cento procuram justificar as políticas do estado neoliberal, vigentes no
Brasil antes e durante o governo do golpe, que promovem a desigualdade e a
concentração da riqueza.
Além de problemas como contradições entre visões diferentes,
entre visões e fatos, o domínio da ciência é limitado pelos domínios dos afetos
– sistemas de crenças como religião, valores e práticas familiares e de classe,
inclusive preconceitos de toda natureza. O que nos leva a questionar a noção de
progresso, o mesmo que figura na bandeira brasileira, logo depois de ordem
(ordem para quem mesmo?).
Somos alimentados desde crianças com a expectativa de que as
coisas estão destinadas a melhorar ou crescer, ou aumentar. Mais. Afinal,
ciência e tecnologia estão permanentemente mudando ou aperfeiçoando
instrumentos e condições para consumirmos coisas “desejáveis” e “melhores”. Que
até a política pode melhorar, desde que nos livremos dos políticos “corruptos”.
Vale a pena continuar com noções como esta de progresso? Mas
será que temos a oportunidade de avaliar o que é progresso de verdade para nós
e para nossas famílias e amigos e pessoas com quem gostamos de desfrutar o
tempo e dividir o espaço que ocupamos?
Muitas oportunidades existem hoje. Apesar dos espasmos
imperialistas, os índices de homicídios têm caído progressivamente na história da humanidade, desde as hordas
primitivas, passando pelas tribos de coletores e caçadores, antiguidade, idade
média, moderna, contemporânea. Apesar dos golpes políticos e retrocessos
sociais, um grande número de pessoas continua a preferir a palavra ao homicídio
para resolver conflitos.
Por outro lado, nunca como agora estivemos tão próximos de
duas catástrofes terminais para a civilização humana: o aquecimento global e a
guerra nuclear, ambos impulsionados pelas formas atuais de dominação econômica,
o capitalismo desregulamentado e os complexos industriais militares. Há um
império que não aceita o declínio que está sofrendo em sua dominância econômica
do planeta, lembra os nazistas que queriam arrasar a Europa ocupada antes de
serem derrotados.
Existe gente em atividade capaz de formular e propor
caminhos melhores. E há máquinas ultrapoderosas de propaganda e de negação dos
fatos que defendem o interesse do crescimento econômico indiscriminado, em
favor da minoria dos donos do dinheiro. Será que a mente coletiva da humanidade
vai ser capaz de escolher as rotas de emancipação para fora da lógica do poder
dos de sempre e da destruição das condições de vida para os demais?
Quem tem consciência, tem que agir, do melhor modo possível. Começando por ajudar a abrir as mentes.
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