De olhos vendados e algemados: Israel mantém mais crianças palestinas
em confinamento solitário
Publicado em: 13 de maio de 2014
10:16
AFP Photo
Israel está colocando mais e mais crianças palestinas em confinamento
solitário, como parte do processo de interrogatório, um novo estudo revela. As crianças são muitas vezes submetidas
a ter os olhos vendados, algemadas e a privação de sono. Nem eles, nem os pais
sabem as razões da prisão.
"Foi usado confinamento solitário para
crianças palestinas detidas em 21,4 por cento dos casos em 2013", diz o
relatório divulgado pela Defesa Internacional das
Crianças da Palestina (DCI-Palestine em ingês), uma seção nacional da
organização não-governamental internacional e movimento de direitos da criança. Os números têm mostrado um aumento de 2 por cento desde 2012. A organização levou pelo menos 98 depoimentos juramentados de crianças
palestinas entre as idades de 12 a 17 em 2013 e apresentou as informações aos
órgãos da ONU. "O número médio de
crianças palestinas em detenção militar israelense, no final de cada mês
durante 2013 foi de 199 ", diz a organização, que utilizou os
dados do Serviço de Prisões de Israel (IPS) e de centros de detenção temporária
do exército israelense, incluindo o centro de detenção Petah Tikva, centro de
detenção de Quisom e a prisão de Shikma em Ashkelon onde são feitos
interrogatórios. Segundo o relatório, as crianças detidas
passaram uma média de 10 dias de isolamento, com o mais longo período sendo 28
dias .Acresce ainda que cerca de 32 crianças entre 12 e 15 anos foram presas no
final de cada mês em 2013. O maior número de adolescentes detidos desta idade
foi em maio, de 48.
Em 34 dos 40 casos (85 por cento), as crianças são detidas "durante o meio da noite por soldados israelenses
fortemente armados", enquanto em 38 dos 40 casos (95 por cento), nem
os pais nem a criança foram informados sobre as razões da prisão, diz o estudo. Também cerca de 80 por cento das crianças palestinas presas por tropas
israelenses na Cisjordânia sofreram alguma forma de violência durante a detenção,
transferência ou interrogatório em 2013, diz o relatório. "As crianças chegam em centros de interrogatório
israelenses com os olhos vendados, amarrado e privação de sono ", diz o estudo."Interrogações tendem a ser coercivos, incluindo uma variedade de
abuso verbal, ameaças e violência física para em última instância produzir uma
confissão." Em 2013, em pelo menos 96 por cento dos
casos documentados pela DCI-Palestine as crianças "foram
questionados sozinhas e raramente informadas dos seus direitos." As crianças também
foram interrogados "sem o benefício da
assistência jurídica, ou a ser devidamente informadas do seu direito ao
silêncio." As técnicas de interrogatório são geralmente tanto mentais quanto físicas,
incluindo "intimidação, ameaças e
violência física com o propósito claro de obter uma confissão ... e / ou reunir
informações ou informações sobre outros indivíduos." "O uso de
isolamento contra crianças palestinas como uma ferramenta de interrogatório é
uma tendência crescente", disse Ayed Abu Eqtaish , diretor do
Programa de Responsabilidade pela DCI-Palestine. "Esta é
uma violação dos direitos das crianças e da comunidade internacional deve
exigir justiça e responsabilização."
A maioria das crianças palestinas é acusada de atirar pedras,
acusações que podem levar a até 20 anos de prisão, dependendo da idade da
criança, de acordo com uma ordem militar israelense. "Embora muitas crianças sustentem sua inocência, a maioria acaba
por se declarar culpada porque esta é a maneira mais rápida em um sistema que
raramente concede fiança ", acrescenta o estudo. Após a sentença, de 50 a 60 por cento das crianças detidas da Palestina
são transferidas para prisões em Israel. Esta ação é uma clara
violação do artigo 76 da Quarta Convenção de Genebra, acrescenta o documento.
A DCI-Palestine demanda o reconhecimento de que o confinamento solitário
de crianças em centros de detenção israelenses é uma forma de tortura que deve
ser interrompida imediatamente. "As autoridades
israelenses devem implementar medidas de responsabilização eficazes para
garantir que todos os relatos credíveis de tortura e maus-tratos sejam
imparcialmente investigados e seus autores sejam responsabilizados ", diz o relatório. A DCI-Palestine já emitiu pelo menos 15 queixas referentes a maus-tratos e
violência contra 10 crianças palestinas detidas por os militares israelenses em
2013. No entanto, nenhum indiciamento foi lançado contra os infratores ainda. A DCI-Palestine, que vem investigando os direitos humanos de crianças na
Palestina desde 1967, diz que "a cada ano cerca de
500-700 crianças palestinas da ocupação Cisjordânia, algumas com apenas 12 anos
de idade, são detidas e presas no sistema de detenção militar israelense, onde
os maus-tratos de crianças são generalizados e sistemáticos"." Crianças
palestinas detidas são então processadas em tribunais militares israelenses
que não têm julgamento justo, e garantias fundamentais e não são estabelecidos
ou administrados de modo a respeitar os direitos das crianças”, diz o relatório. Além disso, de acordo com o estudo, desde 2000, "cerca de 8.000 crianças palestinas foram detidas e
processadas no sistema de tribunal militar israelense." "A
prática de colocar crianças em confinamento solitário em detenção militar
israelense, se em prisão preventiva para fins de interrogatório ou como uma
forma de punição, deve ser interrompido imediatamente e a proibição deve ser
consagrada na lei”, diz a DCI na conclusão.
O sistema de detenção militar israelense tem sido muitas vezes criticado
pela Palestina, bem como por organizações mundiais, incluindo a ONU e UNICEF,
pelos maus-tratos de crianças palestinas. Em abril, o ministro de
assuntos sociais da Autoridade Palestina, Kamal Sharafi, disse que pelo menos
1.520 crianças palestinas morreram nas mãos de forças israelenses desde 2000.
Ele também acrescentou que cerca de 6.000 foram feridos e mais de 10 mil
presos. Em junho de 2013, o Comitê da ONU sobre
os Direitos da Criança (CDC) publicou um relatório afirmando que milhares de
crianças palestinas foram sistematicamente feridas, torturadas e usadas como
escudos humanos por parte de Israel. Durante o período de
10 anos analisado por especialistas em direitos humanos da ONU, até 7.000
crianças com idade entre nove e 17 foram presas, interrogadas e mantidas em
cativeiro, disse o CRC, no relatório.
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