O texto abaixo, de Gilberto Maringoni (que foi meu candidato a vereador nas últimas eleições, pelo PSOL), publicada no site Carta Maior, reúne a maior parte das críticas que eu compartilho em relação ao PT. Eu tiraria os parêntesis do último parágrafo, as outras coisas eu acompanhei e sofri.
Gilberto Maringoni
Data: 17/12/2012
DEBATE ABERTO
Não se mexe em time que está apanhando
Por que o PT fica passivo diante dos ataques que sofre da mídia? Por que o partido não reage diante de óbvios vícios no chamado processo do mensalão? Por que não colocou em pauta a CPI da Privataria? Essa passividade foi meticulosamente construída para fazer da sigla uma máquina eleitoral eficiente, mas desfibrada para disputar a hegemonia na sociedade.
A passividade quase letárgica que o PT exibe nesses dias de ataques da mídia não é obra do acaso. É construção de mais de duas décadas, desde pelo menos o início dos anos 1990. Naquela
ocasião, a direção do então Campo Majoritário decidiu que o partido precisaria se apresentar de forma mais moderada para ganhar o eleitorado de classe média e facções do empresariado em
sua jornada para fazer de Lula presidente do Brasil.
Começou ali um processo de duas vias. De um lado, isolava-se a esquerda interna, tirando-a de postos de direção. De outro, tinha início uma paulatina moderação nas propostas programáticas.
Não foi uma rota tranquila Houve expulsões de correntes – como a Convergência Socialista, em 1992 – e o episódio traumático da cassação da candidatura de Wladimir Palmeira a governador do
Rio, em 1998. A postulação do então deputado federal pela sigla jogava areia numa articulação maior, que visava fazer de Leonel Brizola vice na chapa de Lula. Para tanto, o PDT reivindicava
Antony Garotinho na cabeça de chapa estadual.
No terreno programático, temas como renegociação da dívida externa ou estatização do sistema financeiro deram lugar à Carta aos Brasileiros, em 2002, que advogava o cumprimento estrito dos
contratos firmados pelos governos tucanos. Como tática eleitoral, a moderação e o transformismo foram um sucesso. O PT cresceu em número de votos pelo país. Mas começou a ficar perigosamente parecido com os demais.
Rebeldia como problema
A expansão da máquina partidária e a profissionalização de parte da militância como funcionários de prefeituras e governos de estado, ao longo desses anos, acentuaram uma diluição tática. A
rebeldia deixava de ser vista como fenômeno positivo e passara a ser encarada como ruído a ser removido do comportamento político coletivo.
A partir da eleição de Lula, em 2002, a passividade ganhou ares de grande sabedoria. “Agora somos governo e temos de ir com calma” e “olhem a correlação de forças” passaram a ser o fraseado corrente, a justificar a defesa e aprovação de propostas impensáveis à agremiação de anos antes, como a reforma da previdência, a lei de falências ou a entrada de capital externo nas empresas de mídia.
O partido paulatinamente deixou de disputar hegemonia na sociedade; passou a disputar apenas votos. Abandonou um projeto de poder – entendido aqui como projeto para dirigir o país – e
tornou a conquista de pedaços do aparelho de Estado em sua atividade-fim. Nessa lógica de eleição a qualquer custo, o centro da atividade partidária passou a ser a constituição de governos
de coalizão.
Coalizões amplas são necessárias para se potencializar a luta política e isolar adversários. Para o PT real, as coalizões tornaram-se úteis para a obtenção de maiorias parlamentares, mesmo que inimigos de outros tempos estejam abrigados sob o guarda-chuva da máquina pública. O ambiente de pragmatismo a toda prova pauta a montagem do governo federal. Como a militância poderia investir contra a direita, se vários de seus membros mais ilustres, como Jorge Gerdau, Paulo Maluf, José Sarney, Michel Temer e outros estão abrigados sob as asas do condomínio governista?
Ambiguidades nas críticas
Os petistas não podem se rebelar contra o STF, por um motivo simples: quem nomeou oito dos 11 membros daquela corte foram os presidentes Lula e Dilma. Assim, atacar a cúpula do Judiciário -
se a crítica for sincera - significa investir contra os responsáveis últimos por sua composição.
Tampouco os petistas podem ir muito fundo em suas investidas contra a imprensa, uma vez que o ministro Paulo Bernardo cuida zelosamente, na administração federal, para que nenhuma iniciativa sobre regulação dos meios de comunicação prospere no âmbito oficial. A ministra Helena Chagas, Secretária de Comunicação Social da Presidência da República, por sua vez, atua para que a presidenta conceda entrevistas exclusivas para a TV Globo e a revista Veja, entre outros, além de manter alentados contratos de publicidade governamental com esses e outros órgãos da grande mídia. Para a mídia alternativa, o regime é na base do pão é água, em geral sem um e outro.
Os membros do Partido dos Trabalhadores, alem disso, não podem ir muito além da superfície na crítica à mola mestra dos governos FHC, as privatizações. O PT no governo vendeu estradas, aeroportos, bancos estaduais, empresas de telefonia (na gestão Antonio Palocci, em Ribeirão Preto) e se esmera nas parcerias com as Organizações Sociais (OSs), modalidade de privatização
disfarçada, criada nas gestões tucanas. Por isso, o partido – na figura do presidente da Câmara, Marco Maia – engavetou a CPI da Privataria, no início de 2012. Atacar os adversários equivaleria a se voltarem para as próprias responsabilidades na questão.
Indignação burocrática
Como tem agido a direção partidária? Não formula e não se defende. Justifica. Tenta explicar, num grande contorcionismo verbal, todas as ações da do governo. Isso não mobiliza e não incentiva a saudável rebeldia de outros tempos. Assim, a cúpula petista construiu o partido que queria. Os vídeos com falas monocórdias, mas pretensamente indignadas, de Rui Falcão, presidente da sigla, nas últimas semanas, veiculados
pelo site do partido, são o melhor retrato da inércia dirigente.
Não é de se estranhar, depois disso tudo, que nem a popularidade recorde do governo – motivada por políticas positivas de aumentos do salário mínimo e expansão do crédito - incentive as lideranças a mudarem de posição e irem à luta. Tais iniciativas são positivas, mas parecem estar batendo no teto. Os serviços públicos seguem deficientes e não há no horizonte propostas
de mudanças na estrutura do Estado.
O raciocínio que se vê entre petistas é algo como “com todos os ataques, Lula e Dilma seguem em alta”. Ou seja, “não se mexe em time que está apanhando”...
(Apesar de tudo, a mídia de direita deve ser frontalmente combatida, o sistema financeiro tem de ser enquadrado e o STF deve ser denunciado. Que presidentes da república tenham mais
responsabilidade na hora de compor o órgão máximo da Justiça brasileira).
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
GOLPE NO BRASIL
Em 2002, a suprema corte dos Estados Unidos, de maioria republicana, deu um golpe de estado lá, ao proibir a recontagem de votos no estado da Flórida para as eleições estadunidenses, em que foi "eleito" George W. Bush.Seu opositor Al Gore engoliu, e até hoje essa vacilada é cobrada dele. Depois houve um golpe "legal" em Honduras, outro no Paraguai, todos apoiados pelas cortes supremas desses países.
Agora é a vez do Brasil. O STF, contra o governo do PT, adotou de maneira distorcida uma teoria, a do domínio de fato, para condenar, sem provas, os acusados de operar um mensalão que não existiu. E agora quer passar por cima de uma prerrogativa do Congresso Nacional para cassar mandatos de deputados do PT e da base aliada do governo .
A direita renovou suas armas, usa seu domínio da mídia e do poder judiciário para se sobrepor aos eleitores. O campo progressista precisa reagir. E a oposição de esquerda ao governo federal deve evitar fazer o jogo da direita, que é contra a democracia.
Agora é a vez do Brasil. O STF, contra o governo do PT, adotou de maneira distorcida uma teoria, a do domínio de fato, para condenar, sem provas, os acusados de operar um mensalão que não existiu. E agora quer passar por cima de uma prerrogativa do Congresso Nacional para cassar mandatos de deputados do PT e da base aliada do governo .
A direita renovou suas armas, usa seu domínio da mídia e do poder judiciário para se sobrepor aos eleitores. O campo progressista precisa reagir. E a oposição de esquerda ao governo federal deve evitar fazer o jogo da direita, que é contra a democracia.
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
A medida provisória de redução das tarifas de energia elétrica
É a medida provisória n° 579.
A privatização do setor elétrico foi feita sob o pretexto de melhorar a eficiência, e assim assegurar tanto que as tarifas baixassem e se assegurasse, via mecanismos de mercado, a expansão do setor para atender às necessidades de consumo crescente e a universalização de atendimento às famílias e regiões. Verdade, havia nepotismo e ladroagem, embora não na escala em que os defensores da privatização alegavam, que poderiam ter sido controlados com transparência e controles externos da sociedade.
No entanto, as tarifas foram aumentadas, muito. Não vou colocar os números neste post, um livro interessante sobre o assunto foi publicado por Roberto D'Araujo, tem esses números e pode ser acessado da internet aqui.
Aí vem a questão do custo Brasil, parte do qual vem das tarifas de eletricidade. A FIESP gostou da medida provisória porque ela prevê uma diminuição das tarifas em média de vinte por cento na renovação das concessões das usinas hidrelétricas. Os consumidores domésticos, como sempre no Brasil, não se pronunciaram.
Os governos estaduais que controlam grandes geradoras - principalmente Minas Gerais e São Paulo, se opuseram à medida provisória, e não aceitaram renovar as concessões sem indenizações muito maiores que as oferecidas pelo governo federal. Luis Pinguelli Rosa, que foi presidente da Eletrobras e o pessoal do site Ilumina, que têm uma visão da energia elétrica como serviço público, também se opõem, alegando que isso poderia destruir as empresas estatais geradoras de energia. Creio que o governo Dilma vai negociar.
Mas sinto em todo o noticiário e nos blogs que têm discutido a questão uma falta de um questionamento mais profundo em relação ao modelo vigente para a expansão da produção e consumo de energia elétrica. Esse modelo, por sua natureza complicada, lembra os fundos hedge que estão na raiz da atual crise financeira internacional. Permitem que os agentes privados frustrem, na busca de ganhos propiciados pelos meandros das negociações, os objetivos de estado, de assegurar uma oferta de energia elétrica adequada em termos de quantidade, qualidade e com preços razoáveis.
O modelo vigente foi gerado no governo FHC, e apenas marginalmente racionalizado nos governos do PT, em função da loucura neoliberal, que forçou a mão em monopólios naturais para fazer parecer que a eficiência seria atingida com uma concorrência que é quase sempre fictícia\. O resultado é um sistema complicado e não funcional, a não ser a custos muito mais altos do que seria com um sistema de remuneração fixo, regulado com transparência e sujeito aos questionamentos dos que hoje são marginalizados: os consumidores residenciais, e o país como um todo, em que vale como sempre a necessidade de formular a questão: energia para quem, para que?
Ildo Sauer tem levantado a questão da falta de uma postura estratégica do governo federal, mas persiste a falta de uma crítica mais política, em que de um lado se passe a questionar qual o papel do Brasil na divisão internacional do trabalho (somos exportadores de bens ambientais, como terra e águas?) e o fato de que acionistas privados não devem ter controle sobre políticas de estado, e devem ter maior liberdade apenas nos setores em que existe concorrência de verdade, fora dos monopólios e oligopólios, como é o caso de quase todas as empresas que atuam em energia elétrica no país e no mundo.
O fracasso maior ou menor das iniciativas neoliberais sobre a energia elétrica em todo o mundo - de privatização em alguns casos, de desregulamentação em outros, deveria ser mais divulgado. Assim como a ameaça de um novo apagão num futuro imediato por falta de oferta, mostrada nesta matéria. E a crítica radical aos governos que ou são eleitos pelo poder econômico ou vacilam em confrontar esse poder mesmo quando a evidência mostra a absoluta necessidade de fazê-lo.
A privatização do setor elétrico foi feita sob o pretexto de melhorar a eficiência, e assim assegurar tanto que as tarifas baixassem e se assegurasse, via mecanismos de mercado, a expansão do setor para atender às necessidades de consumo crescente e a universalização de atendimento às famílias e regiões. Verdade, havia nepotismo e ladroagem, embora não na escala em que os defensores da privatização alegavam, que poderiam ter sido controlados com transparência e controles externos da sociedade.
No entanto, as tarifas foram aumentadas, muito. Não vou colocar os números neste post, um livro interessante sobre o assunto foi publicado por Roberto D'Araujo, tem esses números e pode ser acessado da internet aqui.
Aí vem a questão do custo Brasil, parte do qual vem das tarifas de eletricidade. A FIESP gostou da medida provisória porque ela prevê uma diminuição das tarifas em média de vinte por cento na renovação das concessões das usinas hidrelétricas. Os consumidores domésticos, como sempre no Brasil, não se pronunciaram.
Os governos estaduais que controlam grandes geradoras - principalmente Minas Gerais e São Paulo, se opuseram à medida provisória, e não aceitaram renovar as concessões sem indenizações muito maiores que as oferecidas pelo governo federal. Luis Pinguelli Rosa, que foi presidente da Eletrobras e o pessoal do site Ilumina, que têm uma visão da energia elétrica como serviço público, também se opõem, alegando que isso poderia destruir as empresas estatais geradoras de energia. Creio que o governo Dilma vai negociar.
Mas sinto em todo o noticiário e nos blogs que têm discutido a questão uma falta de um questionamento mais profundo em relação ao modelo vigente para a expansão da produção e consumo de energia elétrica. Esse modelo, por sua natureza complicada, lembra os fundos hedge que estão na raiz da atual crise financeira internacional. Permitem que os agentes privados frustrem, na busca de ganhos propiciados pelos meandros das negociações, os objetivos de estado, de assegurar uma oferta de energia elétrica adequada em termos de quantidade, qualidade e com preços razoáveis.
O modelo vigente foi gerado no governo FHC, e apenas marginalmente racionalizado nos governos do PT, em função da loucura neoliberal, que forçou a mão em monopólios naturais para fazer parecer que a eficiência seria atingida com uma concorrência que é quase sempre fictícia\. O resultado é um sistema complicado e não funcional, a não ser a custos muito mais altos do que seria com um sistema de remuneração fixo, regulado com transparência e sujeito aos questionamentos dos que hoje são marginalizados: os consumidores residenciais, e o país como um todo, em que vale como sempre a necessidade de formular a questão: energia para quem, para que?
Ildo Sauer tem levantado a questão da falta de uma postura estratégica do governo federal, mas persiste a falta de uma crítica mais política, em que de um lado se passe a questionar qual o papel do Brasil na divisão internacional do trabalho (somos exportadores de bens ambientais, como terra e águas?) e o fato de que acionistas privados não devem ter controle sobre políticas de estado, e devem ter maior liberdade apenas nos setores em que existe concorrência de verdade, fora dos monopólios e oligopólios, como é o caso de quase todas as empresas que atuam em energia elétrica no país e no mundo.
O fracasso maior ou menor das iniciativas neoliberais sobre a energia elétrica em todo o mundo - de privatização em alguns casos, de desregulamentação em outros, deveria ser mais divulgado. Assim como a ameaça de um novo apagão num futuro imediato por falta de oferta, mostrada nesta matéria. E a crítica radical aos governos que ou são eleitos pelo poder econômico ou vacilam em confrontar esse poder mesmo quando a evidência mostra a absoluta necessidade de fazê-lo.
sábado, 8 de dezembro de 2012
VAMOS FALAR DIRETO
Este artigo de George Monbiot, que escreve para o jornal britânico The Guardian, infelizmente reflete as perspectivas do mundo atual. Concordo com tudo o que ele diz.
sexta-feira, 7 de dezembro de 2012
Aguarde
No último post prometi falar mal do PT. Mas não vou fazê-lo agora, quando a mídia e os conservadores orquestram um ataque concentrado ao PT e governo federal. Eles detestam a independência nas relações externas, os programas de distribuição de renda, a tentativa, mesmo tímida, de dirigir a economia para alguma direção que não se enquadre na maximização dos lucros a curto prazo, fora da lógica do mercado destrambelhado. Eles desprezam os pobres, pretos e pardos e gostariam de fazê-los voltar atrás econômica e socialmente. Não quero me ombrear com essa turma, ao mesmo tempo preciso falar sobre o que me trava a garganta sobre o que os dirigentes e grupos safados fizeram com o PT. Mas não me junto à atual tentativa de linchamento. Por isso, por favor, para esse assunto, me aguarde.
quarta-feira, 21 de novembro de 2012
DELENDA EST LULA ET PT
Os adversários de sempre do PT e da esquerda, e alguns novos
inclusive situados na esquerda, que eventualmente apoiaram ou participaram de
algum modo em governos do PT, estão empenhados em demonizar esse partido,
passando a atribuir a Lula e seus companheiros a maior parte da corrupção e favorecimentos
a grupos privados ou ao capitalismo em geral nos últimos anos.
No processo essas pessoas, armadas de uma indignação
seletiva, parece quererem matar, extinguir o PT. Como Catão pregava para o
Senado Romano a necessidade de destruir Cartago, Delenda est Cartago O motivo para Catão era a
necessidade de enfrentar um rival poderoso da Roma, com o Império ainda
expansão. Roma enfrentou, e no fim das três guerras Cartago foi não somente
destruída, mas totalmente arrasada, à maneira de um bom bombardeio moderno.
Lembra um pouco (um pouco só) o que ingenuamente
acreditávamos todos os que lutávamos de algum modo contra a longa ditadura
civil e militar de 1964 a 1985. Com liberdade, e depois derrotando nas urnas os
partidos conservadores e reacionários, estaria aberto o caminho para um Brasil
mais livre, soberano, mais rico e mais justo, livre dos políticos da ditadura.
Ou seja, destrua-se a ditadura, tudo florescerá. Apesar de você...
Não aconteceu assim, nem era para acontecer assim, porque as
sociedades humanas são feitas de pessoas munidas de insuficiências e de caráter
corrompível, este de várias formas, inclusive a corrupção dos que enriquecem e
dos que se desviam do bem público para cultivar o próprio prestígio e
poder. A correlação das forças políticas
nunca permitiu, e continua impedindo, que o uso da máquina do Estado e da
riqueza pública seja submetido exclusivamente ou mesmo apenas majoritariamente a
critérios republicanos. Os privilegiados permanecem enquistados em todas as
instâncias de poder.
Se o PT acabasse, o que passaria a ocupar seu espaço? Porque
movimentos como o MST, e sindicatos de professores, muito críticos, com razão,
do governo federal, não se juntaram à oposição política e se recusam a aderir
ao coro orquestrado de desconstrução do PT e do lulismo?
Não basta derrotar os maus para que os bons assumam. É
preciso que haja bondade em quantidade razoável, tanto entre os nossos como
entre os vossos. É preciso que os que atuam na política – políticos,
jornalistas, empresários, sindicalistas, a embaixada, concordem em não usar
jogo sujo. E vigiar para que quem tenha oportunidade, não a use para roubar ou
usurpar poder das pessoas comuns. Todo
poder gera abuso, e nenhum cargo santifica ninguém, quem abusa deve ser
combatido, mas o principal inimigo é a tirania. Tirania do poder concentrado,
tirania do pensamento único, tirania dos fundamentalismos. Tirania do racismo,
da reação contra a difusão da cultura, da reação contra a ascensão dos grupos
sociais até hoje marginalizados.
O PT deixou de ser o instrumento da emancipação que muitos
de seus componentes iniciais esperavam. Talvez a característica de conciliação entre
interesses, encarnada por Lula, tenha definido desde o início que não o seria.
Tornou-se parte da elite conservadora que dirige o Estado. Isso significa que
se tornou inimigo da emancipação? Que
criminaliza os movimentos populares e os sindicatos? Perdeu um bocado de relevância ao renunciar a
enfrentar os interesses do capitalismo financeiro, que defendem juros altos, a
gestão desregulamentada por grupos privados dos serviços públicos, a entrega
das rendas provenientes da extração de recursos naturais valiosos à exploração
para outros grupos privados. De qualquer maneira, o PT podia enfrentar a todos?
Como disse Raimundo Rodrigues Pereira (veja
o vídeo),no caso do “mensalão” o PT está sendo atacado não pelos seus
erros, mas por uma iniciativa jurídica que não se sustenta, em que o Supremo
Tribunal Federal mais uma vez atuou não de acordo com as práticas jurídicas mas
seguindo outros poderes, ou seja, a mídia comercial e seus partidos políticos.
Outras vezes em que o STF abriu mão de ser independente foram o caso em que
negou habeas corpus a Olga Benário que estava sendo deportada grávida para ser
morta na Alemanha Nazista, e a declaração falsa de presidência vaga por João
Goulart no golpe de 1964, como lembrou
Fernando Morais.
Os “erros” do PT incluem a traição aos objetivos de pessoas
e grupos que ajudaram a fundar e fazer crescer, e já não cabem neste post. Talvez no próximo.
terça-feira, 13 de novembro de 2012
Sobre o mensalão
O STF funcionou mais ou menos como os congressos de Honduras e do Paraguai que fizeram os impeachment dos presidentes desses países. Ao seguir a pauta da grande mídia, ao aceitar uma teoria construída sem provas sobre um crime eleitoral (que já havia sido cometido nas mesmas condições pelo PSDB, que saiu ileso), ao adotar sob medida uma doutrina nova no Brasil, a do domínio de fato, ao acertar o calendário do julgamento para influir nas eleições. Parece que os golpes militares estão meio em desuso nos últimos tempos e vão sendo substituídos por outros tipos de ações. Não tenho qualquer afinidade política com o José Dirceu, sou adversário da política conciliatória do PT, mas este julgamento foi, sim de exceção, foi, sim, parcial contra o PT. Para um arrazoado mais ordeiro contra esse circo da mídia e esse julgamento, veja http://cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=6&post_id=1135. Veja também as matérias de Ladislau Dowbor sobre dinheiro e corrupção na Agência Carta Maior.
sexta-feira, 9 de novembro de 2012
A série de postagens do professor Ladislau Dowbor conceitua e explica o que é corrupção de verdade. Está no site Agência Carta Maior. Aqui
segunda-feira, 5 de novembro de 2012
Pois,
Este link ajuda a entender um pouco mais porque sempre fomos contra a privatização, praticada no Brasil pela elite dirigente em proveito do poder financeiro, e obedecendo os ditames dos Estados Unidos via FMI. Os piores crimes da privataria tucana não foram as propinas, as fortunas amealhadas, as contas em paraísos fiscais, mas os prejuízos aos consumidores brasileiros, e a entrega de decisões de interesse público para empresas que usam seu poder de monopólio exclusivamente para fazer dinheiro para si - e defender suas posições na grande imprensa e na grande mídia. No Brasil, chegamos à piada de mau gosto de entregar a empresa de transmissão de energia do Estado de São Paulo a uma estatal colombiana.
Este link ajuda a entender um pouco mais porque sempre fomos contra a privatização, praticada no Brasil pela elite dirigente em proveito do poder financeiro, e obedecendo os ditames dos Estados Unidos via FMI. Os piores crimes da privataria tucana não foram as propinas, as fortunas amealhadas, as contas em paraísos fiscais, mas os prejuízos aos consumidores brasileiros, e a entrega de decisões de interesse público para empresas que usam seu poder de monopólio exclusivamente para fazer dinheiro para si - e defender suas posições na grande imprensa e na grande mídia. No Brasil, chegamos à piada de mau gosto de entregar a empresa de transmissão de energia do Estado de São Paulo a uma estatal colombiana.
terça-feira, 7 de agosto de 2012
PRECONCEITO
Pré-conceito. Pode-se definir como um conhecimento sobre
alguma coisa ou alguém que um sujeito tem antes de entrar em ação com esse
objeto. Sob essa definição, trata-se de um instrumento poderoso nas relações
entre seres humanos, já que seria inviável primeiro conhecer completamente cada
pessoa antes de interagir com ela.
Os caçadores e coletores de que descendemos faziam
associações entre aspectos visuais, cheiros, sons, para comparar com algo
ensinado por alguém, ou aprendido por experiência própria. Essas associações
frequentemente falhavam em dar bons resultados. As que davam certo mais
frequentemente acabavam por se incorporar ao conhecimento coletivo.
Se eu avistar um homem sem uniforme portando uma arma, ou
com maneiras agressivas, será sensato considerar que ele seja uma ameaça em
potencial. Uma pessoa que fala com muitos erros pode ter dificuldade em
executar tarefas complexas. Pode ser. Há certa possibilidade de. Pessoas que
não sejam de meu grupo me entenderão menos, eu terei maior dificuldade de
entender.
Os preconceitos tornam o mundo mais simples, mais
inteligível. Tornam mais fácil concentrarmo-nos em nossas rotinas, defender
nossas mentes de novidades reais e de desafios a nossas percepções. Também nos
tornam mais tapados, menos capazes de perceber as verdadeiras ameaças e
oportunidades novas, caminhos novos para trilhar, capacidade de nos adaptarmos
a uma realidade que muda a cada momento.
Tudo isso a propósito de algumas lembranças que me vieram à
mente recentemente.
Estava eu em uma praça no centro de Salvador mais de vinte
anos atrás, e um homem discursava não me lembro do teor, mas mostrava um
talento notável de oratória. Um homem do povo entre os ouvintes, um negro (o
orador era branco) começou a comentar de aos outros que haviam parado para
escutar, que falar assim, só mesmo um branco, que negro não conseguia falar tão
bem. Fiquei um tanto chocado. Ele havia expressado seu entusiasmo pelo
desempenho do orador, mas de incluiu uma desvalorização de sua “raça” e de si
mesmo.
Invertendo o raciocínio desse negro, é reconfortante
pertencer a um grupo que em média é mais
bem sucedido na sociedade. Classificar os que se supõe ser uma ameaça seja ao
mundo de relações pré-estabelecidas seja como concorrentes econômicos como
inferiores prepara o caminho para ações de discriminação contra essas pessoas,
seja em conversas com amigos ou em ações mais contundentes. Principalmente se
esses diferentes já estiverem em posição de inferioridade política, social ou
econômica.
Na realidade, o mundo real é ininteligível para a maioria
das pessoas sem alguns filtros e preconceitos, e ao mesmo tempo, é impossível
estabelecer-se uma verdadeira cooperação em um grupo – de trabalho, local,
nacional, internacional, em que preconceitos tenham uma presença maior.
Democracia só é real se nenhuma parte dos cidadãos é vítima de preconceitos
importantes. Porque a cooperação exige um mínimo de confiança, que sai de cena
quando a visão de uns sobre outros tem muitos elementos que não podem ser
expostos ao grupo.
O preconceito positivo – nossos semelhantes são melhores do
que os outros - também prejudica a atuação do grupo, seja gerando uma
condescendência prejudicial, seja abrindo caminho para o estabelecimento de
privilégios. A parábola atribuída a Jesus reforça essa constatação do senso
comum.
O preconceito positivo – negativo coloca mal os brasileiros
frente aos povos dos países mais ricos – os do “primeiro mundo”. Reforça a
mentalidade de fortaleza, em que a elite se identifica com estadunidenses,
europeus e japoneses (outros asiáticos, ainda não) e se considera cercada por
um mar de pobres incompetentes e indignos. Isto reforça a tendência dos mais
ricos de se encerrarem em condomínios fechados, que por enquanto ficam mais ou
menos protegidos das consequências de uma balcanização crescente das cidades e
do campo onde reside “o resto”, com assaltos e guerras de quadrilhas.
De certa maneira preconceito tem uma grande proximidade com
a superstição. Aqui, chamo superstição toda crença não confirmada pela
experiência (e que não é aceita pela sabedoria corrente). Apenas, superstição
seria mais geral, já que preconceito se aplica a pessoas. Para mim, acreditar
que não existe aquecimento global e que o homem não é necessário por isso
(essas duas afirmações vêm uma seguindo a outra, como táticas ideológicas) é
uma superstição. Não é ainda para a sabedoria vigente, mas passará a ser quando
as evidências desabarem sobre todos.
A superstição e o preconceito procuram a confirmação na
realidade, de duas maneiras. Uma, de caráter observacional, é coletar
evidências no que acontece em torno. A coleta é seletiva (às vezes de forma não
deliberada) para os fatos que confirmam a hipótese, enquanto os que a negam
tendem a ser ignorados, relativizados ou desqualificados. Na observação do dia
a dia, destacam-se os aspectos negativos de uma determinada etnia ou cor,
enquanto se ignoram os positivos, que contrariariam o preconceito. Assim como
um dia de inverno mais frio ou a aparição de um climatologista de segunda linha
ou a soldo de alguma empresa de petróleo reforçam as convicções dos cépticos do
aquecimento global.
Outra maneira, mais contundente, vem na forma de profecias
confirmadas pela ação. As pessoas mais escuras são menos inteligentes, portanto
menos capazes de gerir suas vidas ou os recursos naturais que poderiam ser mais
bem aproveitados pelo sistema de produção vigente. Assim os políticos optam
frequentemente por negligenciar a proteção que é adequada para esses cidadãos,
e eles permanecem frágeis mais propensos a ceder o que têm inclusive sua força
de trabalho, ou podem tender a buscar formas informais de obtenção de renda
(trabalho precário, crime). E assim, a inferioridade tende a ser perenizada.
sábado, 30 de junho de 2012
A IDEIA DO PT E OUTRAS IDEIAS
Já fui de direita, embora tenha sido torcedor do Corinthians
desde os meus dez anos. Até um pouco antes de entrar na escola de engenharia,
meu pensamento foi muito influenciado pelo Estadão que meu pai assinava. O
jornal já era de direita, golpista, mas abria as páginas para um Florestan
Fernandes, um Isaac Deutscher. O primário fiz em escola municipal, em que
convivi com meninos pobres. Influenciado pela religião até os dezesseis anos de
idade, não deixei de perceber as contradições entre a riqueza de uns e a
pobreza de outros, que passou a me incomodar de forma permanente.
Gravitei em torno do PT quase desde a sua fundação. Afastei-me
há já quase dez anos, depois de atuar alguma coisa, sem ser um militante muito
dedicado e, ainda menos, destacado. Falta de dedicação em parte devido ao fato
de na época ter sentido no partido a chatice do movimento estudantil, já
separando os elementos que o constituíram – sindicatos, intelectuais de
esquerda, setores progressistas da igreja católica, e os lideres e seus
seguidores em facções, então apelidadas de tendências. Também não me destaquei
devido a minha natureza, avessa a empurrar e a ser empurrado. Mas procurei
sempre dar minha contribuição e explorar todas as possibilidades de fazer isso.
No começo havia muitos elementos de agregação: reuniões de
base que transmitiam a força de pequenos grupos em para certa democracia ainda pouco
centralista, certa composição entre movimentos sociais, sindicatos e
intelectuais, festinhas que reuniam todos em um ambiente quase familiar. Havia uma vigorosa e sincera denúncia contra
todas as formas de corrupção, corretamente vistas como formas adicionais de
controle da política pelas classes proprietárias, que haviam apoiado o golpe de
1964 e integrado o Estado da ditadura.
Por certo tempo as direções regionais e nacional do partido incluíram
diversos matizes políticos, desde os mais conservadores, em geral ligados à
igreja, até os mais radicais, identificados com políticos como José Genoíno,
com o centro ocupado entre outros por sindicalistas e José Dirceu. Isso antes
de se acirrar a luta de facções, antes de o PT tornar-se um partido com apoio
suficiente para conseguir ser eleito para cargos majoritários em prefeituras e
estados. Lula desde sempre foi a
personalidade dominante, que conciliava as facções, e a partir de certo ponto
passou a manobrar no comando de uma facção, junto com Dirceu e outros, que se
tornou dominante na direção nacional. Os quadros dirigentes passaram a
desfrutar de autonomia crescente em relação às bases locais e temáticas e aos
movimentos sociais e a se distanciar deles.
Os comunistas, à esquerda – aqueles que não consideram o
capitalismo, ou seja, as formas vigentes da economia, necessárias ou
inevitáveis, foram perdendo força ideológica e política dentro do PT. Este acompanhou
seu dirigente máximo, Lula, que desde seu início de atuação como sindicalista,
nunca pretendeu mudar muito as coisas, mas atuar dentro das estruturas e
dinâmicas que vigiam e vigem na política. Atuar nos caminhos estabelecidos,
eventualmente aproveitando atalhos e fendas do sistema, sem procurar mudar as
formas de relação entre as classes sociais, sem procurar influir muito sobre o
futuro. A esquerda, nessa ocasião, foi sendo absorvida dentro do sistema, ou
saiu do PT.
A lógica de mercado, que havia assegurado a permanência das
velhas estruturas políticas no poder, mantendo o PT como um partido
exclusivamente de oposição, acabou por ser absorvida pelos grupos dirigentes do
partido. O trabalho voluntário dos militantes e as contribuições dos afiliados
- um por cento de suas rendas - tornaram-se insuficientes para fazer frente aos
grandes partidos do sistema, filhos da ARENA e do MDB, nas eleições. Seria
necessário mais dinheiro do que os militantes poderiam oferecer.
Quando percebi isso, o que ocorreu aos poucos e em várias
ocasiões ao revisar acontecimentos como as circunstâncias do assassinato de
Celso Daniel, a prevaricação que constatei muitas vezes na atuação da
prefeitura de Marta Suplicy em São Paulo, percebi que o PT, para mim,
tornara-se muito menos interessante. O PT também não gostou de algumas de
minhas intervenções, questionando posturas de dirigentes que eu achara
criticáveis nas poucas ocasiões em que participei de reuniões mais amplas. O
resultado foi que fui marginalizado em minha atuação para a política de
energia, único campo em que eu me mantinha ativo no PT de 2002, e acabei afastando. O PT tornou-se um partido de
corruptos, igualzinho aos partidos tradicionais, incapaz de colocar-se do lado
dos interesses da maioria. Certo?
Não. A realidade não é simples assim. Ainda existe oposição,
aqui como no resto do mundo, entre esquerda e direita. A direita é mais fácil
de caracterizar. Na história brasileira, esteve de acordo com a imposição de
pagar uma indenização a Portugal pela independência do Brasil, esteve contra a
abolição da escravatura, alinhou-se sempre aos interesses ingleses e depois
americanos contra as inciativas de autonomia nacional, exerce desde sempre um
quase monopólio da imprensa escrita, falada e televisada.
Governos do PT em estados e em municípios impulsionaram boas
iniciativas; alguns tentaram, com diversos graus de dedicação e de resultados,
fazer uma discussão participativa de questões de interesse local. Os governos
de Lula e o de Dilma começaram e aprofundaram algumas transformações
importantes na distribuição de renda e na estruturação de uma política externa
mais independente, e ao fazê-lo, mudaram a postura do estado brasileiro. Isso é
muito importante. Estes dois aspectos são defendidos pela esquerda e por
nacionalistas brasileiros desde sempre.
O passivo de omissões, vacilações e alianças reprováveis é
grande, enorme. Não vale aqui detalhar, talvez em um próximo post eu o faça.
Posso citar a leniência com o contrabando e plantio de soja transgênica no sul,
desrespeitando as leis então vigentes, os favorecimentos ao capital financeiro
incluindo a manutenção de altas taxas de juros, os privilégios à indústria
automobilística, a ausência de uma política para o funcionalismo junto a
nomeações por barganhas políticas e para recompensar militantes. Tudo isso os
partidos de direita fazem e esperávamos que essas práticas fossem reduzidas
drasticamente no governo do PT, o que não ocorreu.
O agronegócio: grandes plantações de monoculturas em
latifúndios, favorecimento de tecnologias intensivas em adubos, venenos e
sementes transgênicas, foi apoiado quase sem restrições, enquanto o apoio à
reforma agrária foi ínfimo. Houve algum apoio à agricultura familiar, marginal
em relação ao conjunto.
O PT não criminalizou os movimentos sociais como faz a
direita. Em uma fala durante o seu primeiro governo, Lula pediu que os
movimentos, mais os sindicatos, fizessem pressão sobre seu governo e outras
instâncias de poder em favor de seus interesses. Fala reveladora da fraqueza
dos mesmos em mobilizar suas massas e angariar apoio para causas de interesse
popular, como saúde, educação e segurança para as populações não abastadas.
Quando a economia superou o pior da crise na metade do
primeiro governo de Lula, as massas de trabalhadores começaram a sentir
melhoria em seus níveis de vida, reforçados com a bolsa família. Começou a
ampliar-se o apoio popular a Lula (depois Dilma) e ao PT, nas pesquisas de
opinião e nas eleições, que fizeram do PT o maior partido do Brasil. Ao mesmo
tempo, a maior parte do poder financeiro, e todos os órgãos da grande mídia
corporativa passaram a jogar pesado contra o governo federal, secundados pelos
partidos de oposição (com os Estados Unidos tratando de solapar a política
externa e os laços do Brasil com outros países da América do Sul), além de
partir para a tentativa de impeachment. Diz-me quem são teus inimigos...
O governo negocia, negaceia, trata de não desafiar o poder
econômico. O PT tem caixa dois como todos os outros partidos grandes, mas tem
um projeto para impor o financiamento público às eleições. Aparentemente há acordos
com empresas prestadoras de serviços, mas o governo não tem tentado interferir
no trabalho do ministério público e da polícia federal para investigarem os
malfeitos.
Ainda há muita gente de elevada qualidade moral nos governos
e entre parlamentares do PT. O fato de os outros grandes partidos terem maior
incidência de corruptos e similares também não deveria ser desprezado para se
enfatizar apenas os petistas safados. O que leva a uma conclusão, pelo menos
para mim.
Ações e ideias que possam mudar o mundo no sentido desejado
pela esquerda sincera não se iniciarão, nem se nutrirão muito dentro do
Sistema. Esse Sistema é estéril e tende a esterilizar tudo o que não for capaz
de absorver em seu proveito. Por isso movimentos como os Occupy, de cidades dos Estados Unidos e da Europa são uma coisa
nova, porque eles fazem de maneira eficaz uma ruptura com a conformidade e a
legalidade, para além das velhas organizações de esquerda incapazes de empolgar
as massas de jovens desempregados, marginalizados ou alienados.
A visão conservadora – de favorecimento ao “mercado”, domina
tanto a oposição do PSDB, PPS e DEM como os situacionistas do PT e da base do
governo federal: PMDB, PDT, PP, PSB. Confunde os benefícios reais da
concorrência quando ela existe, da liberdade de iniciativa dentro da segurança
dos outros, com a liberdade total para os monopólios e oligopólios financeiros
e industriais, de dominar a informação, a economia e a lei. No Brasil,
propiciou a privatização e a manutenção dessa privatização dos serviços
públicos, elevando suas tarifas e limitando a sua oferta e qualidade, em
energia e telecomunicações, em benefício de grupos ligados ao grande capital
financeiro.
O combate à pobreza tem tido eficácia, mas a desigualdade
não está diminuindo, talvez esteja aumentando, gerando desunião e violência. A emancipação
do Brasil, como dos outros países da América Latina, passa pelo enfrentamento
de seu Inimigo, as corporações e governo dos Estados Unidos, não através de
guerra, é evidente, mas desafiando sua influência, denunciando os mecanismos de
dominação através de seus agentes, declarados ou não.
Esta tarefa está fora do alcance dos partidos existentes,
inclusive os mais à esquerda. Nem sei se é possível, embora absolutamente
necessária. Existe uma ação dos blogs “sujos” da internet, que é fundamental para
a ruptura do cerco ideológico e de informações exercido pela mídia corporativa.
É possível conciliar o uso do mercado onde ele é desejável e
não concentrador de riqueza junto com uma ação social, que partiria
necessariamente das instâncias locais de ação e poder, tanto das pessoas como
do poder político? Nesta matéria, não explorei essa questão fundamental. Quis apenas
mostrar um pouco minha posição e chamar a atenção para como é fútil concentrar
a avaliação política em termos de contra ou a favor do PT, ou qualquer outro grupo
constituído e organizado, quando o que é necessário é questionar as bases econômicas
e culturais em que a política é exercida. Esse questionamento é tarefa que
interessa aos 99 por cento, mas isto já é outra história.
quarta-feira, 6 de junho de 2012
quinta-feira, 31 de maio de 2012
quinta-feira, 24 de maio de 2012
terça-feira, 15 de maio de 2012
Vejam esta versão de Doce de Coco, de Jacob do Bandolim, com letra de Herminio Belo de Carvalho, com Zelia Duncan e a Orquestra Jazz Sinfônica.
segunda-feira, 19 de março de 2012
sexta-feira, 16 de março de 2012
QUANTOS SOLDADOS AMERICANOS NO MASSACRE EM KANDAHAR?
É bom prestar atenção. Aparentemente, o mais recente massacre de civis no Afeganistão foi perpetrado por mais do que um "soldado estressado", e a maior parte da grande mídia fielmente mantém o assunto debaixo do tapete. Veja a matéria do Russia Today, mas também a do Washington Post.
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
sábado, 4 de fevereiro de 2012
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012
PINHEIRINHO E FASCISMO
Ultimamente alguns comentaristas tem usado o termo fascismo social para vários fenômenos políticos atuais. Eu prefiro fascismo simplesmente, já que as diferenças são mais de forma do que de essência: um complexo de atitudes e ações que incluem o apoio às corporações e bancos, individualismoextremo, racismo, inclinação à violência (hoje geralmente disfarçada por meio de manobras jurídicas. Este depoimento, de uma audiência pública na Assembléia Legislativa de São Paulo no dia 1 de fevereiro e mostrado no site Viomundo, dá uma amostra desse fascismo, envolvendo governos estadual e municipal, polícia e alguns juízes, além da elite dominante de uma cidade do interior paulista. O ovo da serpente continua crescendo.
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
REFLEXÕES POLÍTICAS - sugestão de forma de leitura
Caro visitante,
Provavelmente há um jeito de inverter o ordem dos posts. Mas você certamente pode escolher seguir a ordem crescente, ou decrescente, ou uma ordem aleatória. Só espero que você aprecie as idéias que estão nos vários textos.
Provavelmente há um jeito de inverter o ordem dos posts. Mas você certamente pode escolher seguir a ordem crescente, ou decrescente, ou uma ordem aleatória. Só espero que você aprecie as idéias que estão nos vários textos.
RPA 12 parte 7
DESAFIO AO ESTADO
Estado definido como o conjunto de instituições que sustentam o domínio do Capital – bancos, corporações, governos, parlamentares, sistema judiciário, mídia escrita e audiovisual.
As grandes corporações constituem uma forma de feudalismo, um feudalismo em rede, oposto aos governos mundiais e nacionais. O papel da religião no feudalismo da Idade Média é hoje exercido pelo pensamento único econômico, onde a coisa sagrada é o mercado. Uma exceção, pelo menos parcial, é a China, mas que por ora é incapaz de influir nos sistemas globais de poder, a não ser através de um subimperialismo um pouco mais flexível.
Frente a esse poder mundial, que não só é obstáculo para as verdadeiras demandas sociais, tomadas hoje pelo fetichismo consumista, mas blinda as sociedades contra as mudanças que poderiam prevenir as grandes catástrofes ambientais e humanas programadas para este século, o que fazer?
É indispensável tomar partido, sem adotar um partido. Os indignados, os movimentos Occupy vão produzir alguma forma de organização? Que papel, se algum houver, podem ter os intelectuais de matriz comunista? Os cientistas conscientes? Os ambientalistas? Movimentos sociais, o MST? A democracia hoje não funciona. Entretanto, é essencial a liberdade de expressão, a liberdade de organização. Definir as prioridades para a esquerda.
Falta uma análise das guinadas de Lula (pelego?), Dilma (de gestora e conciliadora de interesses poderosos e concentrados). Os governos Lula e Dilma estabeleceram alianças com vários grupos capitalistas. Que fazer com isso? Rejeitar todas essas alianças, apenas algumas, exigir uma renegociação transparente e sujeita a alguma forma de controle social?
Para coibir as más práticas, é necessário combater a corrupção (propinas para funcionários do estado e políticos eleitos) e estabelecer regulamentações eficientes e eficazes, que permitam a responsabilização e punição administrativa ou criminal, conforme o caso, de todos os participantes.
Como e com quem os comunistas podem se articular? Uma forma de combate seria opor-se a todas as formas de repressão à divulgação de ideias, que partem geralmente não dos governos, mas das mídias e um tanto da Academia.
Esquerda é transgressão: agir fora das regras do Estado, este entendido como o conjunto formado pelos diversos centros de poder em que o capitalismo se apoia. A direita também transgrede, e usa a transgressão da esquerda para justificar sua repressão, que inclui a ação violenta. Por outro lado, a violência da esquerda só pode ser bem sucedida se de alguma maneira estiver conectada por um acordo tácito ao sentimento das massas.
Estado definido como o conjunto de instituições que sustentam o domínio do Capital – bancos, corporações, governos, parlamentares, sistema judiciário, mídia escrita e audiovisual.
As grandes corporações constituem uma forma de feudalismo, um feudalismo em rede, oposto aos governos mundiais e nacionais. O papel da religião no feudalismo da Idade Média é hoje exercido pelo pensamento único econômico, onde a coisa sagrada é o mercado. Uma exceção, pelo menos parcial, é a China, mas que por ora é incapaz de influir nos sistemas globais de poder, a não ser através de um subimperialismo um pouco mais flexível.
Frente a esse poder mundial, que não só é obstáculo para as verdadeiras demandas sociais, tomadas hoje pelo fetichismo consumista, mas blinda as sociedades contra as mudanças que poderiam prevenir as grandes catástrofes ambientais e humanas programadas para este século, o que fazer?
É indispensável tomar partido, sem adotar um partido. Os indignados, os movimentos Occupy vão produzir alguma forma de organização? Que papel, se algum houver, podem ter os intelectuais de matriz comunista? Os cientistas conscientes? Os ambientalistas? Movimentos sociais, o MST? A democracia hoje não funciona. Entretanto, é essencial a liberdade de expressão, a liberdade de organização. Definir as prioridades para a esquerda.
Falta uma análise das guinadas de Lula (pelego?), Dilma (de gestora e conciliadora de interesses poderosos e concentrados). Os governos Lula e Dilma estabeleceram alianças com vários grupos capitalistas. Que fazer com isso? Rejeitar todas essas alianças, apenas algumas, exigir uma renegociação transparente e sujeita a alguma forma de controle social?
Para coibir as más práticas, é necessário combater a corrupção (propinas para funcionários do estado e políticos eleitos) e estabelecer regulamentações eficientes e eficazes, que permitam a responsabilização e punição administrativa ou criminal, conforme o caso, de todos os participantes.
Como e com quem os comunistas podem se articular? Uma forma de combate seria opor-se a todas as formas de repressão à divulgação de ideias, que partem geralmente não dos governos, mas das mídias e um tanto da Academia.
Esquerda é transgressão: agir fora das regras do Estado, este entendido como o conjunto formado pelos diversos centros de poder em que o capitalismo se apoia. A direita também transgrede, e usa a transgressão da esquerda para justificar sua repressão, que inclui a ação violenta. Por outro lado, a violência da esquerda só pode ser bem sucedida se de alguma maneira estiver conectada por um acordo tácito ao sentimento das massas.
RPA12 parte 6
FATORES DE ENFRAQUECIMENTO DAS ESQUERDAS
O principio da atividade empresarial privada na era do capitalismo desregulamentado, principalmente nas corporações, é que a empresa deve maximizar seu valor. É aceitável do ponto de vista dos ideólogos ultra-liberais diminuírem salários, roubar no peso, poluir, enganar. Se for uma grande corporação, a responsabilidade pelos malfeitos é atribuída às regras da bolsa de valores e aos acionistas, principalmente os pequenos.
As ações das grandes corporações convergem para extrair maiores parcelas das rendas atuais (aumentando o desemprego e baixando os salários), remover controles ambientais e as salvaguardas dos pobres e da classe média (diminuindo ou suprimindo o acesso universal à saúde, postergando e diminuindo os benefícios de aposentadorias). Governos de todo o mundo são pressionados para a supressão de direitos trabalhistas, inclusive de organização, para “manter a competitividade”, enquanto empregos são exportados para onde esses direitos são negados e os salários, em conseqüência, mais baixos. E cedem.
Tudo isso tem enfraquecido as organizações sindicais, movimentos sociais e partidos com bases neles.
As disputas internas nos partidos que defendem os critérios empresariais são mais simples: elas são decididas através de hierarquias do dinheiro, enquanto os de esquerda têm (ou tinham) uma tendência permanente para a divisão em facções, que aí entram em acordo ou partem. À medida que partidos de esquerda se deslocam para o centro, assim também se desloca a avaliação interna, da meritocracia (às vezes baseada em “méritos” ideológicos) para a cleptocracia. Os membros que trazem mais dinheiro para eleições do partido, quem se dá melhor com os centros de poder capitalista como os bancos e grandes corporações acabam prevalecendo em governos e parlamentos.
O sistema de limites e controles do Estado democrático teoricamente poderia funcionar. Entretanto, a desigualdade faz que eles se exerçam apenas sobre os menos poderosos, enquanto os mais poderosos fazem as leis, e dão algum jeito nelas quando eventualmente elas contrariam seus interesses. Essa desigualdade de poder aumentou em todo o mundo, particularmente a partir dos anos 1970.
Enquanto os comunistas e socialistas recuaram, os conservadores radicalizaram sua ideologia e suas políticas. Na América Latina, após as ditaduras militares pró- estadunidenses, com suas Doutrinas de Segurança Nacional, as forças conservadoras mantiveram o poder político, diretamente ou através de governantes mantidos sob controle ideológico do chamado Consenso de Washington. O domínio e controle da imprensa escrita, falada e televisada por essas forças tem conseguido limitar a formulação e efetivação, mesmo dentro de governos de centro-esquerda, de estratégias de desenvolvimento nacionais e regionais. Resultado: as visões de esquerda passaram
O preço de a oposição a Lula ter sido mantida dentro de certos limites, por parte de bancos e corporações, inclusive as da grande mídia tem sido, primeiro, a não denúncia pelo governo das danosas transações feitas pelos governos precedentes, e as oportunidades abertas pelo crescimento econômico e pela (limitada) distribuição de renda através da bolsa-família e manutenção, até agora, dos desembolsos de benefícios da previdência social.
O capitalismo tem uma longa história de articulação com impérios, fascismos. Sempre financiou guerras, e em articulação com os governos mais ricos, sempre violou seus princípios liberais em função de uma forma particular de keynesianismo, os complexos industrial-militares. Em sua forma atual, o capitalismo está mais concentrado do que jamais esteve ao longo de sua história, com cento e cinquenta grupos dominando a maior parte da economia mundial todos de alguma maneira articulados com o poderio militar americano.
O principio da atividade empresarial privada na era do capitalismo desregulamentado, principalmente nas corporações, é que a empresa deve maximizar seu valor. É aceitável do ponto de vista dos ideólogos ultra-liberais diminuírem salários, roubar no peso, poluir, enganar. Se for uma grande corporação, a responsabilidade pelos malfeitos é atribuída às regras da bolsa de valores e aos acionistas, principalmente os pequenos.
As ações das grandes corporações convergem para extrair maiores parcelas das rendas atuais (aumentando o desemprego e baixando os salários), remover controles ambientais e as salvaguardas dos pobres e da classe média (diminuindo ou suprimindo o acesso universal à saúde, postergando e diminuindo os benefícios de aposentadorias). Governos de todo o mundo são pressionados para a supressão de direitos trabalhistas, inclusive de organização, para “manter a competitividade”, enquanto empregos são exportados para onde esses direitos são negados e os salários, em conseqüência, mais baixos. E cedem.
Tudo isso tem enfraquecido as organizações sindicais, movimentos sociais e partidos com bases neles.
As disputas internas nos partidos que defendem os critérios empresariais são mais simples: elas são decididas através de hierarquias do dinheiro, enquanto os de esquerda têm (ou tinham) uma tendência permanente para a divisão em facções, que aí entram em acordo ou partem. À medida que partidos de esquerda se deslocam para o centro, assim também se desloca a avaliação interna, da meritocracia (às vezes baseada em “méritos” ideológicos) para a cleptocracia. Os membros que trazem mais dinheiro para eleições do partido, quem se dá melhor com os centros de poder capitalista como os bancos e grandes corporações acabam prevalecendo em governos e parlamentos.
O sistema de limites e controles do Estado democrático teoricamente poderia funcionar. Entretanto, a desigualdade faz que eles se exerçam apenas sobre os menos poderosos, enquanto os mais poderosos fazem as leis, e dão algum jeito nelas quando eventualmente elas contrariam seus interesses. Essa desigualdade de poder aumentou em todo o mundo, particularmente a partir dos anos 1970.
Enquanto os comunistas e socialistas recuaram, os conservadores radicalizaram sua ideologia e suas políticas. Na América Latina, após as ditaduras militares pró- estadunidenses, com suas Doutrinas de Segurança Nacional, as forças conservadoras mantiveram o poder político, diretamente ou através de governantes mantidos sob controle ideológico do chamado Consenso de Washington. O domínio e controle da imprensa escrita, falada e televisada por essas forças tem conseguido limitar a formulação e efetivação, mesmo dentro de governos de centro-esquerda, de estratégias de desenvolvimento nacionais e regionais. Resultado: as visões de esquerda passaram
O preço de a oposição a Lula ter sido mantida dentro de certos limites, por parte de bancos e corporações, inclusive as da grande mídia tem sido, primeiro, a não denúncia pelo governo das danosas transações feitas pelos governos precedentes, e as oportunidades abertas pelo crescimento econômico e pela (limitada) distribuição de renda através da bolsa-família e manutenção, até agora, dos desembolsos de benefícios da previdência social.
O capitalismo tem uma longa história de articulação com impérios, fascismos. Sempre financiou guerras, e em articulação com os governos mais ricos, sempre violou seus princípios liberais em função de uma forma particular de keynesianismo, os complexos industrial-militares. Em sua forma atual, o capitalismo está mais concentrado do que jamais esteve ao longo de sua história, com cento e cinquenta grupos dominando a maior parte da economia mundial todos de alguma maneira articulados com o poderio militar americano.
RPA12 parte 5
PANO DE FUNDO DA “REVOLUÇÃO” NEOLIBERAL
As insuficiências da ação do Estado e o controle da maior parte dos órgãos de imprensa ajudaram os ideólogos neoliberais a empurrarem a agenda pela privatização de funções e empresas. Isto ocorreu junto com a “flexibilização” das leis trabalhistas e o rebaixamento dos salários industriais através da exportação de empregos para países de mão de obra mais barata. Sindicatos e forças políticas ligadas a eles – socialistas e comunistas – sentiram o golpe.
Estas mudanças não se fizeram em um vácuo político. Em todo o mundo, antes, sindicatos e grupos políticos de esquerda conseguiram muitos progressos de cunho democrático: sufrágio universal, saúde pública, educação pública, previdência social, aumento dos rendimentos de salários, redução de desigualdade. Muitas dessas modificações foram efetuadas por governos conservadores, mas sob a pressão das massas e dos partidos, e a partir de 1917, da existência de governos comunistas.
Os comunistas representaram uma ameaça em parte acenando (e implantando em alguns importantes países) para a “ditadura do proletariado”. Essa ameaça, e o exemplo, ao lado das crises do capitalismo, em particular a grande depressão da década dos anos 1930, foram fatores decisivos para a ascensão de grupos socialistas, progressistas e fascistas, todos de uma forma ou outra determinando um grande fortalecimento do Estado à custa da livre movimentação do Capital. Nos países mais avançados, nenhuma revolução comunista tomou o poder. Porém, antes e depois da revolução russa, o estado do bem estar social foi estabelecido, em países da Europa e nos EUA, e a depressão de 1929 levou ao fortalecimento do papel do Estado não só na regulação do capitalismo, mas no fortalecimento da rede de proteção social e na expansão da infra-instrutora dos países mais ricos. Nessa época, e até a segunda metade do século vinte, os sindicatos eram fortes. Quando os Estados Unidos ganharam a guerra fria, o impulso neoliberal já estava em pleno desenvolvimento.
A existência da União Soviética permitiu não só certo equilíbrio, como forçou as ações do império a serem limitadas por ao menos uma aparência de justiça. Mas os países comunistas, ao cercearem diversas formas de liberdade, ao mostrarem-se incapazes de elevar o padrão de qualidade de vida a níveis satisfatórios, acabaram se imolando de duas formas. Limitaram o apoio externo e o papel de modelo para os trabalhadores dos países industrializados, que não quiseram trocar um ambiente repressivo por outro. E internamente, a repressão política e cultural limitou as potencialidades de verdadeiro desenvolvimento de uma nova cultura e de uma nova sociedade, limitando em grande parte o embate entre os dois sistemas a um confronto entre poderes militares.
As insuficiências da ação do Estado e o controle da maior parte dos órgãos de imprensa ajudaram os ideólogos neoliberais a empurrarem a agenda pela privatização de funções e empresas. Isto ocorreu junto com a “flexibilização” das leis trabalhistas e o rebaixamento dos salários industriais através da exportação de empregos para países de mão de obra mais barata. Sindicatos e forças políticas ligadas a eles – socialistas e comunistas – sentiram o golpe.
Estas mudanças não se fizeram em um vácuo político. Em todo o mundo, antes, sindicatos e grupos políticos de esquerda conseguiram muitos progressos de cunho democrático: sufrágio universal, saúde pública, educação pública, previdência social, aumento dos rendimentos de salários, redução de desigualdade. Muitas dessas modificações foram efetuadas por governos conservadores, mas sob a pressão das massas e dos partidos, e a partir de 1917, da existência de governos comunistas.
Os comunistas representaram uma ameaça em parte acenando (e implantando em alguns importantes países) para a “ditadura do proletariado”. Essa ameaça, e o exemplo, ao lado das crises do capitalismo, em particular a grande depressão da década dos anos 1930, foram fatores decisivos para a ascensão de grupos socialistas, progressistas e fascistas, todos de uma forma ou outra determinando um grande fortalecimento do Estado à custa da livre movimentação do Capital. Nos países mais avançados, nenhuma revolução comunista tomou o poder. Porém, antes e depois da revolução russa, o estado do bem estar social foi estabelecido, em países da Europa e nos EUA, e a depressão de 1929 levou ao fortalecimento do papel do Estado não só na regulação do capitalismo, mas no fortalecimento da rede de proteção social e na expansão da infra-instrutora dos países mais ricos. Nessa época, e até a segunda metade do século vinte, os sindicatos eram fortes. Quando os Estados Unidos ganharam a guerra fria, o impulso neoliberal já estava em pleno desenvolvimento.
A existência da União Soviética permitiu não só certo equilíbrio, como forçou as ações do império a serem limitadas por ao menos uma aparência de justiça. Mas os países comunistas, ao cercearem diversas formas de liberdade, ao mostrarem-se incapazes de elevar o padrão de qualidade de vida a níveis satisfatórios, acabaram se imolando de duas formas. Limitaram o apoio externo e o papel de modelo para os trabalhadores dos países industrializados, que não quiseram trocar um ambiente repressivo por outro. E internamente, a repressão política e cultural limitou as potencialidades de verdadeiro desenvolvimento de uma nova cultura e de uma nova sociedade, limitando em grande parte o embate entre os dois sistemas a um confronto entre poderes militares.
RPA12 parte 4
CENTRO-ESQUERDA
A tensão entre o uso de instrumentos de estado para mudar a realidade econômica e social e a liberalização da sociedade continua a funcionar em geral no sentido da liberalização. Partidos e centros de produção de ideologias (como universidades e institutos de pesquisas acadêmicas) também têm acompanhado essa tendência.
A razão disso está nos sucessos do capitalismo a partir da segunda metade do século 20. Esses sucessos provêm de vários fatores, que contribuíram para enfraquecer as propostas da esquerda (além das próprias deficiências desta). Essas propostas mudaram ao longo dos séculos dezenove e vinte, principalmente neste último. Ao eclodir a primeira grande guerra, em 1914, já havia uma divisão na esquerda, entre socialistas reformistas, anarquistas e comunistas.
Vários movimentos socialistas fizeram o percurso do radicalismo ao reformismo, como tem acontecido mais recentemente com os ambientalistas. Nas suas lutas para conquistar o controle de um pouco mais do excedente (mais valia) ou dos aparelhos de estado, ou mesmo priorizar o bem estar em detrimento do patriotismo beligerante, sempre compareceu alguma dose de pragmatismo. Aceitar melhorias salariais e de condições de trabalho em vez de tentar tomar o Estado ou tentar mudar a correlação de forças que controlam esse Estado.
Muitas empresas estatais foram criadas durante o século XX. Elas em geral mostraram ineficiências do ponto de vista empresarial devido a nem sempre contarem com os melhores administradores, a sofrerem de empreguismo e de interferências indevidas de políticos, mas certamente foram eficazes em atender a demandas sociais reais, que o setor privado não supria, ou supria de forma insuficiente.
A China não abriu mão dos serviços públicos. As estatais devem e podem ser mais visíveis (transparentes). O recrutamento de quadros para empresas estatais e para a administração pública (administradores, técnicos, professores e profissionais da saúde) deveria incluir salários razoáveis, mesmo que inferiores aos pagos pelas empresas públicas. O Estado chamado democrático também desde seu início mostrou graves insuficiências mesmo considerando suas propostas mínimas:
O Estado depende, para exercer suas funções, de um corpo de servidores públicos e de dirigentes de carreira ou eleitos, que em regiões e nações de grande desigualdade de renda e de instrução, quando existem, normalmente estão longe da qualificação necessária. Em outros termos, faltam quadros para os cargos de responsabilidade de estatais e da administração direta. Neste caso, um passo lógico compreende a transferência de atividades ou serviços de caráter público para indivíduos e entidades com os quais o Estado faz algum tipo de contrato. Esta transferência se faz necessariamente a um custo adicional, para o qual o Estado tem a obrigação de criar mecanismos eficazes de controle. Difícil.
A tensão entre o uso de instrumentos de estado para mudar a realidade econômica e social e a liberalização da sociedade continua a funcionar em geral no sentido da liberalização. Partidos e centros de produção de ideologias (como universidades e institutos de pesquisas acadêmicas) também têm acompanhado essa tendência.
A razão disso está nos sucessos do capitalismo a partir da segunda metade do século 20. Esses sucessos provêm de vários fatores, que contribuíram para enfraquecer as propostas da esquerda (além das próprias deficiências desta). Essas propostas mudaram ao longo dos séculos dezenove e vinte, principalmente neste último. Ao eclodir a primeira grande guerra, em 1914, já havia uma divisão na esquerda, entre socialistas reformistas, anarquistas e comunistas.
Vários movimentos socialistas fizeram o percurso do radicalismo ao reformismo, como tem acontecido mais recentemente com os ambientalistas. Nas suas lutas para conquistar o controle de um pouco mais do excedente (mais valia) ou dos aparelhos de estado, ou mesmo priorizar o bem estar em detrimento do patriotismo beligerante, sempre compareceu alguma dose de pragmatismo. Aceitar melhorias salariais e de condições de trabalho em vez de tentar tomar o Estado ou tentar mudar a correlação de forças que controlam esse Estado.
Muitas empresas estatais foram criadas durante o século XX. Elas em geral mostraram ineficiências do ponto de vista empresarial devido a nem sempre contarem com os melhores administradores, a sofrerem de empreguismo e de interferências indevidas de políticos, mas certamente foram eficazes em atender a demandas sociais reais, que o setor privado não supria, ou supria de forma insuficiente.
A China não abriu mão dos serviços públicos. As estatais devem e podem ser mais visíveis (transparentes). O recrutamento de quadros para empresas estatais e para a administração pública (administradores, técnicos, professores e profissionais da saúde) deveria incluir salários razoáveis, mesmo que inferiores aos pagos pelas empresas públicas. O Estado chamado democrático também desde seu início mostrou graves insuficiências mesmo considerando suas propostas mínimas:
O Estado depende, para exercer suas funções, de um corpo de servidores públicos e de dirigentes de carreira ou eleitos, que em regiões e nações de grande desigualdade de renda e de instrução, quando existem, normalmente estão longe da qualificação necessária. Em outros termos, faltam quadros para os cargos de responsabilidade de estatais e da administração direta. Neste caso, um passo lógico compreende a transferência de atividades ou serviços de caráter público para indivíduos e entidades com os quais o Estado faz algum tipo de contrato. Esta transferência se faz necessariamente a um custo adicional, para o qual o Estado tem a obrigação de criar mecanismos eficazes de controle. Difícil.
RPA12 parte 3
PRIVATIZAÇÃO – UMA DISCUSSÃO
Muitas das alegações dos privatizadores não eram consistentes com a realidade. Grande parte delas foi desmentida no próprio processo de privatização, e no que aconteceu posteriormente. As tarifas dos serviços (ou preços, como passaram a ser denominadas) aumentaram antes e depois da venda das empresas, não obstante as demissões, principalmente de trabalhadores operacionais. O aparato regulatório, entregue a agências como Aneel e Anatel é operado em grande parte por técnicos e burocratas que vêm das empresas reguladas, ou que para elas vão depois de servir nessas agências. Ele permanece incapaz de contrabalançar o poder dos monopólios naturais ou de fato das empresas de serviços públicos privatizadas.
Do ponto de vista do lucro privado, as empresas privatizadas são de fato mais eficientes. Entretanto, exercem seu poder de monopólio limitando a oferta dos serviços e sua qualidade, e elevando seus “preços” de acordo com regras que foram estabelecidas para favorecê-las, através das consultorias que formataram o modelo de privatização. As contas das empresas tornaram-se privadas, o que dificulta o controle dos monopólios de serviços públicos. Assim, não existem evidências para provar que do ponto de vista social a eficiência não tenha se deteriorado, ao contrário do que foi alegado.
A privatização foi imposta, de fora para dentro, e enriqueceu autoridades (e partidos) que estiveram nela envolvidos. Gerou grandes negócios para os grupos que adquiriram as estatais brasileiras. Mas há mais nisso. Duas questões são fundamentais.
Como os detentores das empresas privatizadas se relacionaram com o então partido de oposição antes e depois das eleições de 2002, e como se formou a unanimidade a favor da privatização que cobriu quase toda a imprensa escrita (com a única exceção da revista Carta Capital) e televisiva (novamente, com uma possível exceção atual da rede Record), e que interditou (e ainda interdita) qualquer debate sobre o tema?
O partido então na oposição, o Partido dos Trabalhadores, estava, por ocasião das eleições de 2002, em plena transição de um partido de massas e de quadros para um partido como os demais, que se situavam mais no espectro de centro-direita a de direita. Nessa ocasião, uma decisão estratégica foi tomada pelos quadros dirigentes do partido. Sem o conhecimento dos seus militantes mais à esquerda, seriam feitas grandes concessões ao capital corporativo e financeiro, o suficiente para superar seu veto, e apesar de depois não ter podido contar com seu apoio.
Muitas das alegações dos privatizadores não eram consistentes com a realidade. Grande parte delas foi desmentida no próprio processo de privatização, e no que aconteceu posteriormente. As tarifas dos serviços (ou preços, como passaram a ser denominadas) aumentaram antes e depois da venda das empresas, não obstante as demissões, principalmente de trabalhadores operacionais. O aparato regulatório, entregue a agências como Aneel e Anatel é operado em grande parte por técnicos e burocratas que vêm das empresas reguladas, ou que para elas vão depois de servir nessas agências. Ele permanece incapaz de contrabalançar o poder dos monopólios naturais ou de fato das empresas de serviços públicos privatizadas.
Do ponto de vista do lucro privado, as empresas privatizadas são de fato mais eficientes. Entretanto, exercem seu poder de monopólio limitando a oferta dos serviços e sua qualidade, e elevando seus “preços” de acordo com regras que foram estabelecidas para favorecê-las, através das consultorias que formataram o modelo de privatização. As contas das empresas tornaram-se privadas, o que dificulta o controle dos monopólios de serviços públicos. Assim, não existem evidências para provar que do ponto de vista social a eficiência não tenha se deteriorado, ao contrário do que foi alegado.
A privatização foi imposta, de fora para dentro, e enriqueceu autoridades (e partidos) que estiveram nela envolvidos. Gerou grandes negócios para os grupos que adquiriram as estatais brasileiras. Mas há mais nisso. Duas questões são fundamentais.
Como os detentores das empresas privatizadas se relacionaram com o então partido de oposição antes e depois das eleições de 2002, e como se formou a unanimidade a favor da privatização que cobriu quase toda a imprensa escrita (com a única exceção da revista Carta Capital) e televisiva (novamente, com uma possível exceção atual da rede Record), e que interditou (e ainda interdita) qualquer debate sobre o tema?
O partido então na oposição, o Partido dos Trabalhadores, estava, por ocasião das eleições de 2002, em plena transição de um partido de massas e de quadros para um partido como os demais, que se situavam mais no espectro de centro-direita a de direita. Nessa ocasião, uma decisão estratégica foi tomada pelos quadros dirigentes do partido. Sem o conhecimento dos seus militantes mais à esquerda, seriam feitas grandes concessões ao capital corporativo e financeiro, o suficiente para superar seu veto, e apesar de depois não ter podido contar com seu apoio.
RPA12 parte 2
PRIVATIZAÇÃO – O PROCESSO
Porque foram realizadas as privatizações? Na época em que elas foram iniciadas, a justificativa mais divulgada era de que o Estado era ineficiente, e que não teria recursos para a grande expansão necessária principalmente para os serviços públicos de energia e telecomunicações. Na época havia um rolo compressor internacional, capitaneado pelo FMI e o Banco Mundial, que tinham os países “em vias de desenvolvimento” sob tutela devido às dívidas, e acima deles, os Estados Unidos, pressionando pelas privatizações.
Sempre houve teóricos do ultra-liberalismo nas universidades, mas a batalha ideológica a favor das privatizações foi travada fora da Academia
O rolo compressor foi basicamente dos órgãos de imprensa e da mídia dominante. O intenso debate, e a resistência à privatização, que reunia sindicatos, partidos então de esquerda, movimentos sociais e acadêmicos, foram eloqüentemente ignorados. Os proponentes da privatização exploraram as justificativas de ineficiência e pobreza financeira do Estado, e afirmaram que a dívida pública e externa seria abatida. Seus argumentos foram repercutidos de forma esmagadora pelos principais órgãos de imprensa e pelas grandes redes de televisão.
Os detentores do poder executivo federal e de estados chave, mais seus corpos legislativos, cumpriram as tarefas que o programa de privatização exigia. Repetiram as justificativas estabelecidas pelo chamado Consenso de Washington, que foi de Washington, efetivamente, mas não foi realmente consenso nos países afetados. Quanto ao judiciário, mantém seu viés de favorecimento aos poderosos.
Os políticos que impulsionaram o programa de privatização repetiram para o público, através das mídias, as alegações do FMI e do Banco Mundial, mas muitos dos que se envolveram diretamente no programa ganharam altas propinas, para seus partidos e para si. Os privatizadores acreditaram realmente nas vantagens alegadas: abatimento da dívida pública, barateamento, universalização e melhoria da qualidade dos serviços públicos? Se é que acreditaram a convicção de um grande número entre os mais altos responsáveis foi substancialmente reforçada pelo enriquecimento pessoal de seus operadores.
Porque foram realizadas as privatizações? Na época em que elas foram iniciadas, a justificativa mais divulgada era de que o Estado era ineficiente, e que não teria recursos para a grande expansão necessária principalmente para os serviços públicos de energia e telecomunicações. Na época havia um rolo compressor internacional, capitaneado pelo FMI e o Banco Mundial, que tinham os países “em vias de desenvolvimento” sob tutela devido às dívidas, e acima deles, os Estados Unidos, pressionando pelas privatizações.
Sempre houve teóricos do ultra-liberalismo nas universidades, mas a batalha ideológica a favor das privatizações foi travada fora da Academia
O rolo compressor foi basicamente dos órgãos de imprensa e da mídia dominante. O intenso debate, e a resistência à privatização, que reunia sindicatos, partidos então de esquerda, movimentos sociais e acadêmicos, foram eloqüentemente ignorados. Os proponentes da privatização exploraram as justificativas de ineficiência e pobreza financeira do Estado, e afirmaram que a dívida pública e externa seria abatida. Seus argumentos foram repercutidos de forma esmagadora pelos principais órgãos de imprensa e pelas grandes redes de televisão.
Os detentores do poder executivo federal e de estados chave, mais seus corpos legislativos, cumpriram as tarefas que o programa de privatização exigia. Repetiram as justificativas estabelecidas pelo chamado Consenso de Washington, que foi de Washington, efetivamente, mas não foi realmente consenso nos países afetados. Quanto ao judiciário, mantém seu viés de favorecimento aos poderosos.
Os políticos que impulsionaram o programa de privatização repetiram para o público, através das mídias, as alegações do FMI e do Banco Mundial, mas muitos dos que se envolveram diretamente no programa ganharam altas propinas, para seus partidos e para si. Os privatizadores acreditaram realmente nas vantagens alegadas: abatimento da dívida pública, barateamento, universalização e melhoria da qualidade dos serviços públicos? Se é que acreditaram a convicção de um grande número entre os mais altos responsáveis foi substancialmente reforçada pelo enriquecimento pessoal de seus operadores.
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012
ALGUMAS REFLEXÕES POLÍTICAS parte 1
A partir de hoje, vou colocar uma série de reflexões sobre poder e economia no mundo de hoje, que sumarizei entre dezembro do ano passado e janeiro deste ano. Para quem vem acompanhando não só o noticiário da grande mídia impressa, falada e televisada, mas o que se publica em órgãos menos poderosos, revistas como Carta Capital, Caros Amigos, e jornais e blogs independentes da internet, essas reflexões não serão novidade, mas vale sempre a pena ver idéias em novas arrumações, com ênfases diferentes. O título geral é uma sigla: RPA12. Quem adivinhar o que é terá o reconhecimento público deste blog. E começamos com os primeiros pequenos textos.
IRRACIONALISMO
O Iluminismo e a noção de Progresso, como visões em que a racionalidade cresce com o conhecimento e a crítica social, que surgiram e permaneceram em voga a partir do século 18 até a segunda metade do século 20 são categorias que provaram ser inúteis, e verdadeiramente nocivas para os que buscam uma libertação dos povos do domínio da pobreza e de elites corruptas. Napoleão, os impérios britânico e americano, o terceiro reich, o stalinismo, estão aí para desmentir o iluminismo. Atualmente vemos crescerem fundamentalismos diversos, como os islâmicos, a direita religiosa americana, os neonazismos, os céticos da mudança de clima, os fundamentalistas do mercado, opondo-se à objetividade científica e à subjetividade livre dos cidadãos. A principal razão desse declínio da racionalidade no terreno das ideias deve ser a falta de racionalidade na vida das pessoas. O ambiente de recessão – com o desemprego e empobrecimento - desencadeado na crise financeira de 2008 levou à denúncia vinda de parte do espectro político da esquerda, das formas atuais do capitalismo. Esses setores da esquerda tiveram sua influência muito diminuída desde que a ofensiva do neoliberalismo e a derrocada da União Soviética determinaram o predomínio cultural avassalador de um “establishment” político e midiático a serviço do capitalismo. Esse establishment inclui os partidos de centro-esquerda eventualmente no poder.
POLÍTICA DA ECONOMIA
No Brasil, o declínio e fim da ditadura militar foram marcados por iniciativas que, como mostra o texto da Constituição de 1988, visavam não somente restaurar a democracia, mas aprofundá-la, no sentido contrário ao dos programas neoliberais. A eleição de Fernando Collor de Mello, seguida da de Fernando Henrique Cardoso representaram, junto a um interregno mais cauteloso de Itamar Franco, o triunfo (e a prática) do neoliberalismo no Brasil. Se não fosse pela eleição de Luis Inácio Lula da Silva em 2002, as políticas neoliberais teriam se intensificado. Entretanto, Lula e Dilma não reverteram o domínio de grupos econômicos privados sobre a política. As eleições são na realidade operações privadas, e elas constituem uma forma básica da corrupção no Brasil. A maior parte dos políticos eleitos recebe dinheiro de grandes empresas, fora os que recebem de um governo estrangeiro, e esse dinheiro é uma contrapartida de vantagens conseguidas pelos poderes dos políticos no poder ou a serem devolvidas, com grandes acréscimos, após as eleições. Esse é o caso para a maior parte dos políticos das bases de apoio dos últimos governos, federais, estaduais e locais. O que inclui o atual governo federal. Uma das formas de corrupção mais recentes foram os processos de privatização de grandes empresas e de serviços públicos que ocorreram na América Latina, União Européia e Rússia. O Brasil foi um dos países que transferiram maiores valores de ativos públicos a grupos privados.
IRRACIONALISMO
O Iluminismo e a noção de Progresso, como visões em que a racionalidade cresce com o conhecimento e a crítica social, que surgiram e permaneceram em voga a partir do século 18 até a segunda metade do século 20 são categorias que provaram ser inúteis, e verdadeiramente nocivas para os que buscam uma libertação dos povos do domínio da pobreza e de elites corruptas. Napoleão, os impérios britânico e americano, o terceiro reich, o stalinismo, estão aí para desmentir o iluminismo. Atualmente vemos crescerem fundamentalismos diversos, como os islâmicos, a direita religiosa americana, os neonazismos, os céticos da mudança de clima, os fundamentalistas do mercado, opondo-se à objetividade científica e à subjetividade livre dos cidadãos. A principal razão desse declínio da racionalidade no terreno das ideias deve ser a falta de racionalidade na vida das pessoas. O ambiente de recessão – com o desemprego e empobrecimento - desencadeado na crise financeira de 2008 levou à denúncia vinda de parte do espectro político da esquerda, das formas atuais do capitalismo. Esses setores da esquerda tiveram sua influência muito diminuída desde que a ofensiva do neoliberalismo e a derrocada da União Soviética determinaram o predomínio cultural avassalador de um “establishment” político e midiático a serviço do capitalismo. Esse establishment inclui os partidos de centro-esquerda eventualmente no poder.
POLÍTICA DA ECONOMIA
No Brasil, o declínio e fim da ditadura militar foram marcados por iniciativas que, como mostra o texto da Constituição de 1988, visavam não somente restaurar a democracia, mas aprofundá-la, no sentido contrário ao dos programas neoliberais. A eleição de Fernando Collor de Mello, seguida da de Fernando Henrique Cardoso representaram, junto a um interregno mais cauteloso de Itamar Franco, o triunfo (e a prática) do neoliberalismo no Brasil. Se não fosse pela eleição de Luis Inácio Lula da Silva em 2002, as políticas neoliberais teriam se intensificado. Entretanto, Lula e Dilma não reverteram o domínio de grupos econômicos privados sobre a política. As eleições são na realidade operações privadas, e elas constituem uma forma básica da corrupção no Brasil. A maior parte dos políticos eleitos recebe dinheiro de grandes empresas, fora os que recebem de um governo estrangeiro, e esse dinheiro é uma contrapartida de vantagens conseguidas pelos poderes dos políticos no poder ou a serem devolvidas, com grandes acréscimos, após as eleições. Esse é o caso para a maior parte dos políticos das bases de apoio dos últimos governos, federais, estaduais e locais. O que inclui o atual governo federal. Uma das formas de corrupção mais recentes foram os processos de privatização de grandes empresas e de serviços públicos que ocorreram na América Latina, União Européia e Rússia. O Brasil foi um dos países que transferiram maiores valores de ativos públicos a grupos privados.
sábado, 21 de janeiro de 2012
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
terça-feira, 10 de janeiro de 2012
MÚSICA! 2
Algúém reclamou no youtube, que retirou a interpretação de Cristian Ferras, da Chanson Russe de Stravinsky. Achei esta aqui, com Itzhak Perlman, bela também, embora não tanto quanto a do Ferras. Helas!
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