Em tempos de festas, o afetivo vem à tona. Necessário encarar também as coisas ruins que vêm ocorrendo em torno de nós.
Depois do fim do ciclo de ditadura civil-militar
aberta, o clima foi de desafogo. Podia-se falar e escrever o que se quisesse, e
formavam-se novos partidos, para além da ARENA e do MDB – o partido oficial e o
parido da oposição consentida. De todos os partidos formados, o mais
interessante e promissor foi o Partido dos Trabalhadores.
O PT reuniu uma grande diversidade de pessoas que de uma forma ou outra se opuseram de forma
mais decidida à ditadura. Incluía sindicalistas “autênticos” (para se
diferenciar dos pelegos da ditadura, que se aliaram aos patrões e colaboraram
com os órgãos de repressão, tortura e extermínio dos opositores), comunistas de
vários matizes, os setores da igreja católica ligados ao movimento da teologia
da libertação, e muitos intelectuais avulsos.
Continuo a apoiar o PT, mesmo depois da divulgação
da “carta aos brasileiros” de Lula em 2001, e a minha constatação, em 2002, sobre os excessos de conciliação com os poderes que travam um desenvolvimento verdadeiramente emancipatório para o país. Por duas
razões básicas, a política externa que punha o país em primeiro lugar em vez de subordinar o Brasil automaticamente aos desígnios do Grande Irmão do Norte, e a
política de distribuição de renda, baseada nos aumentos do salário mínimo e na
universalização do programa Bolsa Família.
Bem antes disso, antes da eleição de Lula em 2001, em uma
eleição anterior, começaram incidentes com fascistas de classe média. Meu filho
adolescente desfraldava do carro dirigido por minha mulher uma bandeira do PT,
que foi arrancada com violência pelo pessoal de outro carro.
Em uma ocasião, passava eu com meu carro, quando um indivíduo
em outro veículo começou a vociferar e buzinar, sem razão aparente. Aparentemente,
ele se revoltou por um adesivo do PT no meu pára-brisa posterior.
Na década de 1990 entrei para um grupo de discussão r e-mails de
aposentados da CESP. Fiquei contrariado com a intromissão de e-mails raivosos de
direita, típicos de propaganda do PSDB. Ao expressar minha discordância com o
que considerei um desvio da finalidade do grupo, tive uma reação malcriada do
autor, mais o apoio a ele por uma componente do grupo, e da própria moderadora. Saí do grupo.
Percebi, assim como outros militantes ou simpatizantes do PT
e de outros partidos de esquerda, que não deveria deixar adesivos políticos no
automóvel. Encontram-se adesivos agressivos dos partidos de direita e de antipetistas
e reacionários em geral, mas a sensação é que contra nós atos de vandalismo são
quase uma certeza.
A partir de 2013 as “manifestações” de extração fascista deram
um salto. Coros de obscenidades e palavrões contra a presidente da república em
estádios, passeatas pedindo a intervenção militar nos pais, panelaços sempre
que a presidenta fazia um pronunciamento na televisão...
Essas “manifestações” só começaram a regredir quando a
esquerda começou a mobilizar-se, ao mesmo tempo em que passou a exigir
políticas econômicas menos puramente neoliberais por parte do governo. Mas o ambiente permanece doente, assim como a
democracia. Um pressuposto da prática democrática, de respeito a pessoas e
regras está em permanente estado de violação.
Essa ofensiva, que está longe de se limitar ao Brasil, da direita fascista se dá em conjugação com o
aparelhamento da mídia comercial (e estatal, no caso do estado de São Paulo,
através dos programas jornalísticos da rádio e televisão Cultura), de grande
parte do judiciário, da polícia federal e várias polícias estaduais, em torno
do projeto de esmagar o PT e a esquerda em geral.
O projeto de ter um Brasil que inclua toda a diversidade
de suas gentes dentro de padrões mínimos de vida decente, e superando os
intoleráveis extremos atuais de desigualdade, é fora da menor sombra de dúvida o ponto básico de dissenso para a direita raivosa. Eles devem ser
combatidos. Seu poder deve ser neutralizado, ou diminuído ao máximo. Suas
tribos devem ser enfrentadas o tempo todo, com a maior força possível. Com eles não convivemos, não negociamos a não
ser tréguas provisórias ou termos de sua rendição ao embate civilizado e
democrático.
A esquerda deve se bater hoje e sempre pela emancipação de
todos, pela atribuição de poder a todos, menos aos que se opõem a essa
transformação igualitária, cujo poder deve ser diminuído na medida do possível
sem violência, mas com violência se tiver que ser. Pela liberdade de expressão
para os que ainda não a têm. Pelo desaparelhamento das instituições e aparelhos
do estado, hoje ocupados pelo capital e por seus representantes políticos.
Estaremos em estado de exceção enquanto a mídia corporativa
monopolizar as notícias e interpretações dos fatos; enquanto grande parte do
judiciário e das polícias continuarem a agir como instrumentos do poder dos
ricos contra os pobres, em favor dos partidos de direita e contra os partidos
de esquerda (hoje o PT, mas alguém tem dúvidas sobre o como seria com qualquer
outro partido ou agrupamento que tivesse força para agir fora da lógica
neoliberal e estadunidense?).
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