Será que
este bem é devidamente valorizado na sociedade em que vivemos?
O
capitalismo historicamente trouxe alguns graus de liberdade aos produtores de
bens e serviços, também conhecidos como trabalhadores. Ao mesmo tempo
coisificou, ou transformou em mercadorias muitas coisas, como o próprio
trabalho e continua a estender essa condição mais e mais a tudo que pode ter
algum valor para as pessoas.
Que conceito
é esse de liberdade? Primeiramente, não estar preso por cordas, cadeias, não
estar amordaçado. Mas também,
fundamentalmente, é não ter dor, não ter fome. Poder andar para fora. Poder
olhar e mostrar-se. Poder ouvir, emitir sons, falar. Não ser obrigado a trabalhar
para outros, e se tiver que fazê-lo, poder fazer em ritmo próprio.
Conhecer
outras verdades, e divulgar. Ouvir música ao vivo (música!). Ler em paz um bom
livro. Escrever se tiver o que escrever. Viver em segurança para amar e ser
amado. Passear pelas ruas e praças, com a família ou sozinho sem medo da
bandidagem, que prolifera em uma sociedade que não só tolera um nível absurdo
de desigualdade, mas a promove, e se põe contra iniciativas que a atenuem.
Encontrar amigos desfrutando em paz a companhia, sonhos, ideias, bobagens.
Fazer arte, em diversos sentidos – contar histórias, fazer música, mostrar
coisas bonitas. Poder torcer pelo Corinthians no meio de torcedores do
Palmeiras ou do São Paulo.
Poder
escrever isto imaginando que alguém vai ler. Sonhar, imaginar. Reunir-se a
outras pessoas para fazer, construir coisas novas e necessárias ou desejadas.
Em
contraste, a liberdade cocoroca: de escolha entre os fabricantes do último eletrodoméstico,
modelo de carro ou instrumento eletrônico quase inútil lançado recentemente,
entre as músicas e filmes dos EUA que dominam o mercado, entre Globo e Globo,
entre os jornalões; liberdade de passear nos shopping centers ou na área
interna do condomínio; de atravessar uma cidade congestionada em veículo
blindado fechado, com ar condicionado e um som de última geração. Perto dessas
liberdades de merda aquelas liberdades mais simples são bem mais importantes
para mim.
Para você não?
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