Nunca considerei prioritária uma luta pelo casamento gay. Como
não sou gay, acho que não é me cabe julgar se é ou não uma coisa boa, ou mesmo racional
ou não.
Casamento deve ter sido criado para estabilizar as relações,
entre homem e mulher, que tendem a ficar unidos de qualquer modo. Estabilizar
para garantir o interesse do homem em ajudar a criar os filhos. Tendo certa
segurança de que os filhos serão seus, será mais fácil ele assumir suas
responsabilidades de pai.
Mas alguns casamentos não têm filhos. Mais grave ainda,
parte deles porque o casal não quis tê-los. Daí esses casamentos deixam de
visar à prole. Na década de 60, muita
gente andou deixando para mais tarde, ou simplesmente fugindo do casamento.
Muitos homens, mas também mulheres. Uma personalidade daquele tempo dizia que
só quem queria casar era padre (houve um movimento na época, de padres não
pedófilos, pela permissão de casamento pela Igreja).
Hoje as relações sem formalização estão muito comuns, e
algumas se formalizam depois de alguns anos e da decisão de fazer e criar
filhos. Mas a prevalência é de uniões estáveis. Não só por causa dos filhos,
mas porque ao que parece, o ser humano tende a unir amor e sexo, e o amor livre
é apenas um apelido mal dado a sexo livre. E sexo livre, embora seja
potencialmente mais divertido, tem inconvenientes nada desprezíveis: gravidez
indesejada, doenças transmissíveis, encontros desagradáveis, a falta de intimidade
e de cumplicidade. Pode ser uma preparação para o amor, mas se durar muito, não
vale a pena para a maior parte dos mortais.
Na mesma década de 60, entrando pela de 70, grande parte dos
gays (implico com esse nome, mas uso porque é o que não os ofende), eram promíscuos,
ou adeptos do amor livre, o que é a mesma coisa. As doenças sexualmente
transmissíveis experimentaram um boom, e era questão de tempo surgir algo tão
devastador como a AIDS, que atingiu primeiro os gays masculinos, e depois toda
a população heterossexual que usava prostitutas ou praticava alguma forma de
sexo livre. Aos que não foram punidos pela ira divina, ou aos que se protegeram
da mesma usando camisinhas, a opção de limitar a própria liberdade sexual
inclusive através uniões estáveis passou a ser mais atraente também para os
gays.
Mas, porque casamento? Porque não apenas firmarem-se
compromissos, inclusive mediante contratos em cartórios?
Acho que tenho uma pista. Casamento é uma coisa bonita, para
celebrar uma união que, pelo menos quando ela se inicia, é uma coisa linda. A
noiva com um vestido branco, flores, festa, a proximidade de familiares e
amigos, as crianças por perto. O ambiente da Igreja, apesar da imposição de ler
aquelas coisas, lembrar as aspirações do clero de governar as almas. Uma festa
muito bonita, emocionante.
Porque os gays não teriam direito a essas coisas, ou coisas
similares, se o casamento entre eles gerar neles e nos que lhes são próximos,
essas sensações boas? E os direitos civis provenientes da união, quando ela dá
certa e dura bastante?
A Igreja não quer, não oficie casamentos gays. O mesmo para
todas as outras religiões. Mas os cocorocas devem limitar-se a isso: não
participem. Eu, se algum dia for convidado para um casamento gay, entre homens
ou mulheres, ou entre qualquer par que não se enquadre no modelo tradicional, vou
tratar de curtir com todo o prazer e com alguma curiosidade, que toda coisa
nova merece.
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