Viva o Greg Palast, que esteve no Brasil na década de 1990, tentando ajudar nós os brasileiros , inclusive eletricitários, a enfrentar a privataria dos tempos do FHC
Fonte da fotografia: Gabinete do presidente dos EUA, Ronald Reagan –
Domínio Público
Na semana passada, um político do Texas, Ben Barnes, confessou que
estava pessoalmente envolvido – e, portanto, uma testemunha ocular de alta
traição: o acordo secreto bem-sucedido da campanha de Ronald Reagan com o
governo iraniano para manter 52 americanos reféns para que Reagan pudesse
derrotar Jimmy Carter.
O acordo repulsivo de Reagan funcionou. Em 1980, o fracasso de Carter em
trazer os reféns para casa destruiu sua chance de reeleição. Reagan, em última
análise, retribuiria o favor dos assassinos do Irã com armas e até, para o
aiatolá Khomeini, um bolo de aniversário do conselheiro de Reagan, Oliver
North.
A questão é: por que agora? Por que Barnes de repente denunciou esse
crime – e um crime que é – com quatro décadas de atraso? Sua desculpa fofa,
relatada sem questionamento pelo New York Times, é que "a história precisa
saber que isso aconteceu".
Errado. A "história" não precisa saber – os eleitores
americanos precisavam saber sobre a traição de Reagan antes da eleição de 1980.
Então, por que Barnes afastou a verdade por décadas? Siga o dinheiro.
É um rastro de dinheiro que leva a dois Bush que não teriam se tornado
presidentes se não fosse pelo silêncio de Barnes sobre o Irã – e a omertà de Barnes sobre outro esquema
assustador de Bush.
Em 1999, para o The Guardian, descobri que Barnes, em seu papel anterior
como vice-governador do Texas, usou seu suco político para levar o filho do
congressista George Bush pai, "Dubya", para a Guarda Aérea do Texas –
por sobre literalmente milhares de candidatos muito mais qualificados. (o
Pequeno Bush marcou 25 de 100 no teste, apenas um ponto acima de "burro
demais para voar".)
E assim, Dubya se esquivou de ser convocado e do Vietnã.
Barnes escondeu a verdade, apesar dos apelos da governadora do Texas,
Ann Richards, que, em 1994, perdeu uma eleição para Dubya.
Em Austin, Texas, recebi provas irrefutáveis de que Barnes foi o fixador
que tirou o filho do congressista Bush da convocação para o Vietnã. (Isso,
enquanto Bush pai estava votando para enviar os filhos de outros homens para o
Vietnã.)
O que Barnes recebeu por seu enterro do acordo de Reagan com o Irã e a
evasão do projeto de Bush Jr.? US$ 23 milhões fizeram isso?
Em 1999, eu estava investigando uma empresa, a GTech, que administrava
as loterias britânica e texana. O Texas havia desqualificado a GTech de operar
a loteria estadual com base em fortes evidências de corrupção. Mas,
estranhamente, o novo governador do Texas, George W. Bush, demitiu o diretor de
loteria que havia banido a GTEch. Em seguida, o novo comissário de loteria de
Bush devolveu à GTech seu contrato multibilionário, sem licitação.
Notavelmente, a demissão do diretor de loteria do estado por Bush ocorreu
dois dias depois de uma reunião com o lobista da GTech – Ben Barnes.
As honorários para Barnes da GTech? US$ 23 milhões.
Eu não estava no pequeno tête-à-tête de Bush-Barnes: a informação veio
de um memorando confidencial do diretor de loteria que estava bem enterrado
dentro dos arquivos do Departamento de Justiça.
Em um processo civil, Barnes supostamente negou qualquer quid pro quo
com o governador Bush. Talvez. Um belo pagamento de GTech ao diretor de loteria
injustiçado selou o testemunho de Barnes do público.
Talvez Bush tenha se encontrado com Barnes apenas para relembrar. Mas se
Barnes tinha toda a fortuna política da família Bush em seu bolso, ele
realmente precisava lembrar Dubya das consequências se o governador não
cuidasse do cliente de Barnes?
Conspirar secretamente com uma potência estrangeira para manter americanos
presos, secretamente negociando e fornecendo armas a um inimigo estrangeiro é a
definição de traição –assim como um encobrimento de dinheiro.
Roubar a verdade é tanto uma técnica de supressão de votos quanto roubar
cédulas. Este é mais um exemplo de como Reagan e os Bush transformaram a
América em "A melhor democracia que o dinheiro pode comprar".
Esta coluna foi distribuída
pelo Independent Media Institute.
Greg Palast é um jornalista
investigativo e autor.
Esta é parte de um email que recebi do The Intercept, para o qual eu já colaborei alguma vez. É importante ver como a repressão lá também passa pelo equivalente a milícias e polícias daqui:
Os repórteres do The Intercept passaram anos tentando descobrir a
história real por trás da brutal repressão aos manifestantes do oleoduto Dakota
Access em Standing Rock em 2016. Mas estávamos perdendo uma peça crucial – até
agora.
Novos documentos que obtivemos de um processo judicial exaustivo podem
finalmente lançar uma luz sobre as ações do proprietário do oleoduto Energy
Transfer, do empreiteiro de segurança privada TigerSwan e das agências de
aplicação da lei de Dakota do Norte.
Mas levamos dois anos para
ganhar nosso caso contra a Energy Transfer, e já gastamos mais de US $ 100.000
em custos legais. Agora temos mais de 50.000
arquivos do empreiteiro de segurança da gigante do gasoduto em mãos – e passar
por eles ainda será demorado e caro. Precisamos do apoio de nossos membros mais
do que nunca para finalmente relatar o resto desta história.
Quando os membros da Tribo Sioux de Standing Rock lideraram protestos
contra o oleoduto Dakota Access, de 1.172 milhas de comprimento, milhares de
pessoas viajaram para Dakota do Norte de todo o país em uma demonstração
histórica de solidariedade.
Depois veio a repressão. Os opositores do oleoduto foram atacados com
cães, gás lacrimogêneo e balas de borracha. Em um ponto, os manifestantes foram
baleados com um canhão de água em um tempo frio congelante, mandando pessoas
para serem tratadas por hipotermia e outros ferimentos.
A Energy Transfer, proprietária da Dakota Access, contratou a TigerSwan,
uma empresa de segurança privada liderada por um ex-comandante da unidade de
elite do Exército Delta Force. Essa empresa realizou vigilância aérea,
monitorou comunicações, infiltrou-se em círculos ativistas e coordenou com
agências de aplicação da lei.
O Intercept processou sob as leis estaduais de acesso a registros para
obter acesso a milhares de páginas de documentos que poderiam lançar luz sobre
as atividades da TigerSwan, mas o agressivo escritório de advocacia ligado a
Trump da Energy Transfer lutou conosco a cada passo do caminho.
Graças ao apoio de nossos membros, fomos capazes de continuar lutando
contra esse caso por dois anos – e acabamos vencendo. Mas ainda não é hora de uma volta de vitória.
Nossa equipe está trabalhando duro para analisar esses documentos, mas
encontrar a agulha neste palheiro não será fácil. Contamos com o generoso apoio
de nossos membros para ajudar a verdade sobre Standing Rock a ver a luz do dia.
Grande Chris Hedges. Neste artigo publicado em seu blog e traduzido pelo Brasil 247, ele lança bastante luz sobre os conflitos internos das oligarquias dominantes dos EE. UU. Procurei corrigir algumas falhas da tradução.
Jornalista vencedor do Pulitzer Prize (maior prêmio do jornalismo nos
EUA), foi correspondente estrangeiro do New York Times, trabalhou para o
The Dallas Morning News, The
Christian Science Monitor e NPR.
Trump não está sendo visado pelas contravenções e crimes que ele
parece ter cometido, mas por desacreditar e minar o poder entrincheirado
do duopólio dominante
Artigo de Chris Hedges originalmente publicado no Substack em 26/3/23. Traduzido e adaptado por Rubens Turkienicz com exclusividade para o Brasil 247
Donald Trump — enfrentando quatro investigações governamentais, três
criminais e uma civil, visando a ele e os seus negócios — não está sendo
visado devido aos seus crimes. Quase todos os crimes sérios dos quais
ele é acusado de executar foram cometidos pelos seus rivais políticos.
Ele está sendo visado porque é considerado perigoso pela sua disposição,
ao menos retoricamente, de rejeitar o Consenso de Washington
concernente às políticas neoliberais de livre mercado e livre comércio,
bem como a ideia de que os EUA deveriam dirigir um império global. Ele
não só menosprezou a ideologia dominante, mas instou os seus apoiadores a
atacar o aparato que mantém o duopólio ao declarar a eleição de 2020
como ilegítima.
O problema Donald Trump é o mesmo problema Richard Nixon.
Quando Nixon foi forçado a renunciar sob a ameaça de um impeachment, não
foi pelo seu envolvimento em crimes de guerra e crimes contra a
humanidade, nem pelo seu uso ilegal da CIA e outras agências federais
para espionar, intimidar, acossar e destruir radicais, dissidentes e
ativistas. Nixon foi derrubado porque ele visou outros membros do
establishment político e econômico dominante. Uma vez que Nixon, assim
como Trump, atacou os centros do poder, as mídias foram deslanchadas
para expor abusos e ilegalidades o que elas haviam minimizado ou ignorado
previamente.
Os membros da campanha de reeleição de Nixon grampearam ilegalmente a
sede do Comitê Nacional Democrata no edifício de escritórios de
Watergate. Eles foram pegos depois que reentraram nos escritórios para
ajustar os dispositivos de escuta. Nixon foi implicado tanto na
ilegalidade pré-eleitoral, incluindo a espionagem de oponentes
políticos, quanto por tentar usar agências federais para encobrir o
crime. O seu governo mantinha uma “lista de inimigos” que incluía
acadêmicos, atores, líderes sindicais, jornalistas, homens de negócios e
políticos bem conhecidos.
Um memorando interno da Casa Branca de 1971 intitulado “Dealing with
our Political Enemies” — composto pelo Conselheiro da Casa Branca John
Dean, cujo trabalho era aconselhar o presidente sobre a lei — descrevia
um projeto montado para “usar a maquinaria federal disponível para foder
os nossos inimigos políticos”.
O comportamento de Nixon, bem como dos seus ajudantes mais próximos,
era claramente ilegal e merecia prossecução. Houve 36 vereditos de
culpa, ou confissões de culpa associadas com o escândalo de Watergate
dois anos após o arrombamento. Mas não foram os crimes que Nixon cometeu
contra dissidentes que garantiram a sua execução política, mas foram os
crimes que ele executou contra o Partido Democrata e os seus aliados,
incluindo a imprensa do establishment.
“O centro político foi sujeitado a um ataque com técnicas que são
usualmente reservadas àqueles que fogem das normas aceitáveis de crenças
políticas”, escreveu Noam Chomsky no The New York Review of Books em 1973, um ano após a renúncia de Nixon.
Como Edward Herman e Chomsky assinalam no seu livro “Manufacturing Consent: The Political Economy of the Mass Media”:
“A resposta é clara e concisa: grupos poderosos são capazes
de se defenderem, não supreendentemente; e segundo os padrões das
mídias, é um escândalo quando as suas posições e direitos são ameaçados.
Em contraste com isso, sempre que as ilegalidades e violações da
substância democrática são confinadas à grupos marginais ou vítimas
dissidentes por um ataque militar dos EUA, ou resultam num custo difuso
imposto à população em geral, a oposição das mídias é muda ou totalmente
ausente. Foi assim que Nixon conseguiu chegar tão longe, embalado num
sentido falso de segurança precisamente porque o cão de guarda só latia
quando ele começasse a ameaçar os privilegiados”.
O que levou ao desvendamento do governo Nixon, e o que está no cerne
dos ataques a Trump, é o fato que, assim como Nixon, os alvos de Trump
incluíam “os ricos e respeitáveis, os porta-vozes da ideologia oficial,
homens dos quais se espera que compartilhem o poder, para planejar
políticas sociais e moldar a opinião pública”, como Chomsky assinalou
sobre Nixon naquela época. “Pessoas como essas não são elegíveis para
sofrerem perseguições nas mãos do estado.”
Isto não é para minimizar os crimes de Trump. Trump — mesmo nas
pesquisas de opinião pública comparando-o com o presidente Biden para as
eleições presidenciais de 2024 — parece haver cometido diversas
contravenções e sérios crimes.
Em novembro de 2022, o Departamento de Justiça dos EUA nomeou um
procurador especial para investigar a retenção de documentos
classificados feita por Trump na sua casa de Mar-a-Lago, na Florida, e
quaisquer potenciais responsabilidades criminais resultando daquele ato,
bem como qualquer interferência ilegal na transferência de poder depois
das eleições presidenciais de 2020.
Em separado, um procurador distrital na Georgia está trabalhando
com um grande júri de propósito especial concernente às tentativas de
Trump de anular os resultados da eleição de 2020. Uma parte chave das
evidências é o notório telefonema entre Trump e o Secretário de Estado
da Georgia, Brad Raffensperger, no qual o presidente ficou insistindo
que precisava que fossem encontrados mais votos. As acusações neste caso
poderiam incluir a conspiração para cometer uma fraude eleitoral,
extorsão e pressionar e/ou ameaçar autoridades oficiais.
O promotor público do distrito de Manhattan está investigando os US$
130.000 que Trump usou para pagar a estrela pornográfica Stormy Daniels,
com quem Trump alegadamente teve uma relação sexual. Este pagamento foi
registrado erroneamente nos arquivos da Organização Trump como um
pagamento por serviços legais, em violação às leis financeiras de
campanhas eleitorais.
Finalmente, a Procuradora Geral de Nova York, Letitia James, está
abrindo uma ação judicial, alegando que a Organização Trump mentiu sobre
os seus ativos, afim de garantir empréstimos bancários. Caso a ação
judicial da Procuradora Geral tenha sucesso, Trump e outros membros da
sua família poderão ser impedidos de fazer negócios em Nova York por
cinco anos, incluindo compras de propriedades.
As alegadas ofensas de Trump devem ser investigadas — apesar de os casos envolvendo Daniels e a retenção de documentos classificados
parecerem ser relativamente menores e parecidos com aqueles cometidos
pelos oponentes políticos de Trump.
No ano passado, a campanha de Hillary Clinton em 2016 e o Comitê
Nacional do Partido Democrata concordaram em pagar uma multa de US$
8.000 e US$ 105.000, respectivamente, por rotular erroneamente uma
despesa de US$ 175.000 como uma pesquisa sobre a oposição — nomeadamente
o há muito desacreditado “Dossier Steele” — como “despesas legais”. A
retenção imprópria de documentos classificados tipicamente resultou em
um tapinha na mão quando outros políticos poderosos foram investigados.
Clinton, por exemplo, usou servidores privados de e-mail, ao invés de
uma conta governamental de e-mail quando ela era Secretária de Estado. O
FBI concluiu que ela enviou e recebeu materiais classificados como de
alto segredo em seu servidor privado. Em última análise, o diretor do
FBI James Comey se recusou a processá-la. O ex-vice-presidente de Trump,
Mike Pence, e Biden também tinham documentos classificados nas suas
casas, apesar de que nos dizem que isso poderia ter sido “inadvertido”. A
descoberta destes documentos classificados, ao invés de provocar
ultraje na maior parte das mídias, iniciou uma conversação sobre
“classificação demasiada”. O antigo diretor da CIA David Petraeus
recebeu dois anos de liberdade condicional e uma multa de US$ 100.000
após admitir que ele proveu “livros negros” altamente classificados que
continham anotações manuscritas classificadas sobre reuniões oficiais,
estratégia de guerra, capacidades de inteligência e nomes de agentes
clandestinos à sua amante Paula Broadwell, que também estava escrevendo
uma biografia bajuladora de Petraeus.
Como foi o caso com Nixon, as acusações mais sérias que Trump poderá
enfrentar envolvem o seu ataque aos alicerces do duopólio de dois
partidos, especialmente aquelas que minam a transferência pacífica do
poder de um ramo do duopólio para o outro. Na Georgia, Trump poderá
enfrentar acusações criminais muito sérias, com potencialmente longas
sentenças caso ele seja condenado; idem, caso o procurador especial
indicie Trump por interferência ilegal na eleição de 2020. Não saberemos
até que quaisquer indiciamentos sejam tornados públicos.
No entanto, as ações mais flagrantes de Trump enquanto estava no
cargo receberam coberturas mínimas das mídias, ou foram minimizadas, ou
elogiadas como atos executados em defesa da democracia e da ordem
internacional liderada pelos EUA.
Por que Trump não foi investigado criminalmente pelo ato de guerra
que ele cometeu contra o Irã quando ele assassinou o Major-General
iraniano Qassem Soleimani e outras nove pessoas com um ataque de drone
no aeroporto de Baghdad? O Primeiro-Ministro iraquiano Adel Abdul-Mahdi
condenou o ataque e disse ao seu parlamento que Trump mentiu afim de
expor Soleimani no Iraque como parte das conversações de paz entre o
Iraque, o Irã e a Arábia Saudita. O parlamento iraquiano aprovou uma
resolução exigindo que todas as tropas estrangeiras deixem o país — o que o governo dos EUA rejeitou.
Por que não processar ou fazer o impeachment de Trump por pressionar o
seu secretário de estado a mentir e dizer que o Irã não estava
cumprindo o Plano de Ação Compreensivo Conjunto, conhecido como o acordo
nuclear com o Irã? Em última análise, Trump o demitiu e retomou as
sanções unilaterais, devastadoras e ilegais contra o Irã, violando a lei
internacional e, muito possivelmente, as leis dos EUA. Por que Trump não
sofreu impeachment pelo seu papel nas tentativas em andamento para
arquitetar um golpe e derrubar o presidente democraticamente eleito da
Venezuela? Trump declarou um previamente desconhecido político de
direita — e aspirante a líder de um golpe — Juan Guaidó para ser o
verdadeiro presidente venezuelano e, depois, lhe passou ilegalmente o
controle das contas bancárias do país latino-americano nos EUA.
As sanções ilegais dos EUA que facilitaram esta tentativa de golpe
bloquearam a entrada de alimentos, remédios e outros bens no país e
evitaram que o governo explorasse e exportasse o seu próprio petróleo,
devastando assim a economia. Mais de 40.000 pessoas morreram entre 2017 e
2019 devido às sanções, segundo o Centro para as Pesquisas Econômicas e
Políticas (Center for Economic and Policy Research). Este número
agora certamente é maior .
Assim como Trump, Nixon não sofreu impeachment pelos seus crimes
mais flagrantes. Ele jamais foi indiciado por mandar a CIA destruir a
economia chilena e por apoiar um golpe militar de direita que derrubou o
governo de esquerda democraticamente eleito de Salvador Allende. Nixon
não foi levado à justiça pelas suas campanhas ilegais e secretas de
bombardeios em massa no Cambodia e no Laos, que mataram centenas de
milhares de civis, e pelo papel do seu governo nas matanças do povo
vietnamita, resultando em pelo menos 3,8 milhões de mortos, segundo um
relatório conjunto da Universidade de Harvard e da Universidade de
Washington, e até números maiores de vítimas, segundo o jornalista
investigativo Nick Turse. Nixon não foi responsabilizado por aquilo que o
então presidente Lyndon Johson denominou privadamente como “traição”,
quando ele descobriu que o ainda-a-ser-eleito candidato republicano e o
seu futuro Conselheiro de Segurança Nacional, Henry Kissinger,
deliberada e ilegalmente sabotaram as suas negociações de paz no
Vietnam, em última análise prolongando a guerra por outros quatro anos.
Os artigos de impeachment contra Nixon foram aprovados pelo Comitê
Judiciário da Câmara dos Representantes dos EUA. Os artigos I e III
focalizaram nas alegações relativas à Watergate e o fracasso de Nixon em
lidar apropriadamente com as investigações pelo congresso. O artigo II
relacionava-se com as alegações de violações das liberdades civis e o
abuso de poder do governo. Mas estes se tornaram discutíveis a partir da
renúncia de Nixon e, ao final, o desgraçado ex-presidente não enfrentou
as acusações relativas ao Watergate. Um mês depois de Nixon deixar a
presidência, o presidente Gerald Ford o perdoou por “todos os delitos
contra os EUA” que ele havia “cometido ou pode haver cometido, ou ter
tomado parte em cometer durante o período entre 20 de janeiro de 1969
até 9 de agosto de 1974”.
Este perdão alicerçou a presidência imperial. Ele entrincheirou a
noção moderna da “imunidade de elite”, como o advogado
constitucionalista e jornalista Glenn Greenwald assinala. Nem os
republicanos, nem os democratas querem estabelecer um precedente que
possa aleijar o poder não-controlado e não-responsabilizável de um
futuro presidente.
Os crimes mais sérios são aqueles que são normalizados pela elite do
poder, independentemente de quem os iniciou. George W. Bush pode ter
começado as guerras no Oriente Médio, mas Barack Obama as manteve e as
expandiu. A realização maior de Obama poderia ter sido o acordo nuclear
com o Irã, porém Biden, seu antigo vice-presidente, não reverteu a
destruição deste, nem cancelou a decisão de Trump de mudar a embaixada
dos EUA em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, em violação da lei
internacional.
Assim como os seus oponentes nos partidos Republicano e Democrata,
Trump serve aos interesses da classe bilionária. Também ele é hostil aos
direitos dos trabalhadores. Também ele é um inimigo da imprensa. Também
ele apoia o desvio de centenas de bilhões de dólares federais para a
indústria da guerra para manter o seu império. Também ele não respeita o
estado de direito. Também ele é pessoal e politicamente corrupto. Mas
ele também é impulsivo, fanático, inepto e ignorante. As suas teorias da
conspiração sem base, a sua vulgaridade e travessuras absurdas, são um
embaraço para a elite do poder estabelecida nos dois partidos
dominantes. Diferentemente de Biden, ele é difícil de controlar. Ele
deve ir embora, não porque ele é um criminoso, mas porque ele não é
confiável pelo sindicato do crime dominante, para gerenciar a firma.