Reverter a degradação global da terra pode aliviar três
grandes problemas – os efeitos das mudanças climáticas, a perda de
biodiversidade e a insegurança alimentar, de acordo com um relatório da ONU
divulgado hoje. O Global
Land Outlook 2 da Convenção
das Nações Unidas para Combater a Desertificação (UNCCD) aponta que 40% da
terra da Terra foi comprometida pelo desenvolvimento, desmatamento, agricultura
e outras atividades humanas. Mas o relatório também oferece uma visão dos
benefícios que podem ser acumulados até 2050 se a humanidade agir para
restaurar as paisagens e reverter esse número.
O relatório – uma continuação de uma análise
semelhante divulgada em 2017 – se destaca por vários motivos, diz o
ecologista Robin Chazdon, que dirige uma empresa de consultoria chamada Forestoration International
e não esteve envolvido no trabalho. Uma é que adota uma visão sintética e
holística de vários problemas relacionados, incluindo a proteção da
biodiversidade, a promoção da
agricultura e o uso da terra sustentáveis e a contenção
das mudanças climáticas. Atualmente, as nações estão assumindo cada uma
dessas questões com acordos e planos de ação separados, mas “o que emerge deste
relatório é a necessidade de unir tudo isso em uma única estratégia”, diz
Chazdon.
O relatório também abrange uma definição incomumente ampla
de restauração, observa ela. Embora o termo seja frequentemente usado para se
referir aos esforços para devolver as paisagens a um estado não perturbado, o
relatório diz que a restauração também deve abranger etapas mais limitadas.
Isso inclui a substituição de nutrientes e micróbios de um solo esgotado para
permitir que ele suporte melhor as plantações ou animais de pastagem, além de
remover espécies invasoras e ajudar florestas e pastagens danificadas a crescer
novamente. “Significa qualquer coisa que você faça, se você arrancar uma erva
daninha do seu gramado, você está fazendo a restauração do ecossistema”,
explica Chazdon.
Alguns pesquisadores, no entanto, discordam da definição
inclusiva de restauração do relatório, dizendo que está muito focada nas
necessidades humanas. “É muito antropocêntrico, perdendo completamente o
significado da restauração da terra”, diz o ecologista de restauração David
Moreno Mateos, da Universidade de Harvard. “Não se trata de pessoas, trata-se
do sistema complexo que a Terra é.” Ele também está preocupado que o relatório
não reconheça que a verdadeira restauração do ecossistema pode levar um século
ou mais.
O relatório, no entanto, descreve uma série de esforços de
restauração em andamento, como o projeto de
plantio de árvores da Grande Muralha Verde da África, e observa que os
países já se comprometeram a restaurar 1 bilhão de hectares de terra (10
milhões de km²) até 2030. Esse é um ótimo ponto de partida, diz um dos autores.
“Quando comecei a compilar [as promessas], não pensei que fosse nada perto de 1
bilhão”, diz Barron Orr, cientista-chefe da UNCCD.
O relatório pinta um quadro preocupante do que pode
acontecer até 2050 se a humanidade não proteger e restaurar as paisagens. Esses
resultados incluem:
·
As crescentes demandas agrícolas e de bioenergia
continuarão a degradar uma área de 1,6 bilhão de hectares – o tamanho da
América do Sul.
·
O aumento da demanda por alimentos pode levar à
perda de mais 470 milhões de hectares de área natural, principalmente na África
Subsaariana e na América Latina.
·
A produtividade das terras naturais, agrícolas,
de pastagens e pastagens diminuirá em pelo menos 12%, sendo a África
Subsaariana a mais afetada.
·
Sessenta e nove Giga Toneladas a mais de carbono
serão emitidas nos próximos 35 anos. A liberação de carbono do solo, turfeiras
e vegetação contribui com cerca de 17% das emissões anuais de carbono.
Em contraste, o relatório conclui que os benefícios podem
ser substanciais se as nações puderem restaurar 5 bilhões de hectares de terra
nas próximas décadas. Eles incluem:
·
O rendimento das colheitas aumentará de 5% a 10%
nos países em desenvolvimento no Oriente Médio, África e América Latina.
·
A terra restaurada armazenará 17 gigatoneladas a
mais de carbono em 35 anos.
·
A biodiversidade diminuirá mais lentamente, com
11% das extinções esperadas evitadas.
·
A perda global de áreas naturais diminuirá e as
áreas naturais poderão aumentar em 3% na América Latina.
O relatório pinta um cenário ainda mais otimista se as
nações pudessem, além de restaurar 5 bilhões de hectares de terra, proteger
áreas equivalentes a metade da superfície terrestre que são importantes para
preservar a biodiversidade, manter os fluxos de água e proporcionar outros
benefícios. Atingir essa meta exigiria aumentar o rendimento das culturas em
pelo menos 9%, observa o relatório, mas os resultados podem incluir:
·
As áreas naturais vão expandir 400 milhões de
hectares.
·
A biodiversidade diminuirá ainda mais
lentamente, com um terço das extinções esperadas evitadas.
·
Cerca de 83 gigatoneladas de carbono ficarão
presas, uma quantidade igual a 7 anos das emissões globais atuais, o que
ajudaria o mundo a limitar o aquecimento global a 1,5°C.
Alguns pesquisadores advertem contra esperar demais dos
esforços de restauração de terras. “O relatório oferece uma visão abrangente e
muito interessante dos aspectos políticos, sociais e ecológicos que afetam a
degradação, a recuperação e a sustentabilidade do uso da terra globalmente”,
diz Marcia Marques, ecologista da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, que
foi não envolvido nisso. Mas, embora a restauração “promova grandes ganhos
locais e regionais, ainda não há evidências convincentes de que a restauração
em larga escala seja suficiente para sequestrar carbono da atmosfera e mitigar
as mudanças climáticas”.
doi: 10.1126/science.abq7249
Sobre a autora
Elizabeth Pennisi
Liz é correspondente sênior, que cobre muitos
aspectos da bio
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